Um ano de Madame Saatan em São Paulo
Por Gustavo Pelogia
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Era mais ou menos 10 da noite de sábado. Quando cheguei, a vocalista Sammliz já estava deitada. O namorado e baixista, Ícaro, passa, me cumprimenta e vai para o mesmo quarto. Edinho está na cozinha tocando violão, enquanto Ivan conversa via skype no notebook e o produtor, Bernie, faz as malas para a viagem. Em sete horas a banda pega a estrada para o ultimo show no sudeste em 2008, em Belo Horizonte e na semana seguinte começam a voltar (em datas diferentes) para Belém/PA, a terra natal. Cada um de sua forma, faz a hora passar. Mas no fim, ninguém dorme, ecoam os comentários pela casa no outro dia cedo, enquanto esperam a van, que atrasa por duas horas. Ansiedade por tocar, ou pela volta para casa? Não importa. O que interessa é o quanto ambas as coisas são fundamentais para o heavy metal destes cinco. Me estendem um sofa-cama na cozinha e eu durmo lá mesmo. Saímos às 5h da para a viagem à capital mineira.
Unidos, porém independentes. Já faz um ano que o Madame Saatan se mudou para São Paulo e que não voltam para Belém. Vendeu-se carro, juntou-se roupas, coragem e a quase três mil quilômetros de casa, os quatro músicos – Sammliz, Edinho, Ícaro e Ivan – e o produtor, Bernie, trouxeram de Belém a esperança de mais uma banda de rock de viver da sua música na capital paulista. Os cinco dividem uma casa no pacato bairro da Casa Verde, Zona Norte de São Paulo. É o heavy metal feito pelas pessoas mais tranquilas que se pode imaginar. Fora do palco, evidentemente. Apesar do nome (e Sammliz já explica), o demônio aqui só se manifesta no show. Pegamos a estrada com eles e descobrimos muito sobre o pessoal da Madame Saatan:
Pelogia: Quando e como vocês resolveram, sentiram e decidiram que precisavam vir para São Paulo?
Sammliz: Quando nós gravamos o disco (homônimo, 2007) queríamos divulgá-lo e não teria como fazer isso de Belém, pois, infelizmente é longe de onde “tudo acontece”. Então precisamos vir para cá para dar uma sobrevida à esse trabalho, cavar novas oportunidades. Como todo mundo, nós começamos despretensiosamente, mas as coisas foram dando certo, então você vislumbra mais. Nós não falamos sobre isso, mas acho que todos sabiam que isso aconteceria. Não sei o que vai acontecer, mas esse ano está sendo muito louco, nós estamos vivendo como banda, 24 horas por dia.
Pelogia: E aqui é mesmo o lugar onde “tudo acontece”?
Sammliz: As coisas já aconteciam para nós lá, mas aqui elas vêm mais rápido. Fizemos a nossa primeira turnê de verdade, viajando por vários estados e em três meses já fomos endossados (patrocinados). A gente já se virava lá, aqui ficou mais fácil.
Pelogia: E tocar em casa agora, é diferente? Existe uma recepção maior por lá?
Sammliz: A gente ainda não voltou. Mas eu estive lá para o lançamento do clipe (de “Vela”) e a recepção foi ótima. Vários veículos de comunicação deram atenção, nós saímos em jornais diários frequentemente. Acho que a nossa volta (aos palcos) vai ser como foi a despedida, uma festa louca. As pessoas lá são muito intensas.
Pelogia: Mais intensas do que aqui?
Sammliz: Muito mais! Aqui o pessoal falava que o publico era muito blasé, mas nós nunca tivemos uma mostra disso.
Ivan: As pessoas que vão nas casas de shows em São Paulo estão interessadas em ouvir som novo. Mas se a gente fosse tocar com bandas de emocore, por exemplo, acho que não teria a mesma receptividade, por conta de ser segmentado.
Pelogia: Vocês fariam concessões no som para atingir mais público?
Sammliz: Não temos mais idade pra isso (risos). Não dá, é fake. Não tem como a gente ser fake. É estupido, seria uma violência contra nós mesmos.
Pelogia: O release diz que tem a música de vocês tem influências regionais. Quais são essas influências?
Sammliz: O rádio sempre fica ligado, então crescemos ouvindo brega, carimbó, guitarrada. Aquelas coisas que você dança no colégio, que se ouve naturalmente e nós gostamos. Não é uma coisa que nós precisamos colocar no som, mas nós crescemos ouvindo isso.
Ivan: Os movimentos folclóricos lá são muito grandes. A gente tem cultura de raiz, especificas de lá mesmo, como o carimbó, que a Samm disse. A língua que nós falamos é o rock and roll, mas isso acaba soando como uma espécie de sotaque. Não é regional, como faz o Nação Zumbi, é só uma espécie de tempero.
Pelogia: Vocês sentem um não conhecimento das pessoas de São Paulo sobre o estado do Pará?
Sammliz: Primeiro, acham que é tudo nordeste. Dizem ‘oxente’, nós não falamos ‘oxente’. Em geral o povo brasileiro é muito ignorante sobre seu próprio país.
Ivan: Quando eu cheguei aqui, ouvi falar que o paulistano é muito centrado em sí, que não conhecia o resto do país. Mas pude ver que não é uma questão de egocentrismo, é a dinâmica da cidade que faz isso. É tanta “correria”, como dizem aqui, que não sobra tempo ocioso. Os adolescentes mesmo, começam a trabalhar muito cedo. A gente foi na MTV e tinha uma molecada de 15, 16 anos dizendo que dali já iam pegar o metrô para o trabalho. Lá, nós começamos a trabalhar só na universidade. Essa é uma pressão muito grande, talvez por isso eles sejam mais fechados.
Pelogia: A primeira vez que ouvi o nome da banda, achei estranho, tive aquela sensação de ‘banda de demônio’, não deu vontade de ouvir. Existe muito isso? De onde vem esse nome?
Sammliz: Existe sim. A banda surgiu de uma peça de teatro e o diretor queria que executássemos a trilha ao vivo. Como iriamos chamar uma banda que vai atuar numa peça que vai do grotesco ao absurdo? Foi o nome que encontramos para a situação. O nome é forte, contraditório e causa diferentes sensações. Essa peça passou em uma universidade extremamente católica e não teve problema. A única coisa que tivemos é uma produtora de Belém que não nos contrata por causa de uma superstição que tem com o nome.
Pelogia: Qual produtora?
Sammliz: É a maior de lá, que faz shows da Ivete Sangalo, tal. Ele queria nos contratar, mas precisaríamos tirar o Saatan do nome, o que não vai acontecer. Nós gostamos do nome também porque é feminino e em português. Conclusão: a banda vingou e continuou depois do teatro. No começo os nossos pais achavam esquisito, mas depois acostuma. A gente colocou um “a” a mais só para ficar diferente.
Ivan: No começo mesmo da banda, as pessoas não sabiam quem estava tocando. Primeiro elas viam o show, depois que descobriam o nome da banda. Quando a peça acabou, passou pela minha cabeça com relação a aceitação. Mas pelo tipo de som que estamos propostos a fazer, o nome não poderia ser outro.
Pelogia: Tem alguma coisa que foi composta para a trilha da peça que vocês ainda tocam?
Sammliz: O CD é uma mistura do começo da banda (no teatro) com composições que fizemos depois, por isso ele não tem nome. Eu ouço algumas coisas hoje e penso que as pessoas não devem entender nada, são coisas muito deslocadas. “Apocalipse” e “Prometeu” são da trilha e ficaram.
Pelogia: Vocês tem mais público em São Paulo ou fora?
Ivan: Em Belém, nós fazemos um show e vai a cidade toda. Fora de São Paulo, tocamos muito em festivais, então tem o público das bandas todas. Aqui é menor, pois não tem um grande festival, embora tenha festa de segunda à segunda. Você toca para o público da casa, para as pessoas que já freqüentam aquele lugar ou porque aquela balada é mais perto da casa ou do trabalho delas.
Sammliz: Engraçado que quando a viaja por aí, não encontramos tantas bandas de São Paulo. O pessoal não sabe que tem festivais, mas tem publico, tem imprensa. Aqui eu percebo também que tem muitas bandas de um certo tipo de hardcore, do cara que tem grana. O hardcore de Belém é pobre, batalhador, é periférico ainda, é punk (risos). Aqui o emocore é muito forte.
Pelogia: No cenário do emocore aqui, as bandas precisam vender convites para tocar. Quem se dispõe a pagar mais, fica mais próximo da atração principal da noite.
Sammliz: Pois é, essa vontade louca de ser músico. Tem muita gente nessa leva que é talentoso. Mesmo parecendo tudo muito igual, algumas se sobressaem. Mas a maioria…não sei o que estão fazendo ali.
Pelogia: E como você sabe que não são dessa leva?
Sammliz: Porque a gente não ganha dinheiro (risos), estamos aqui pela sanha (desejo compulsivo). A gente não sabe até quando vamos poder ficar se dedicando tão intensivamente à esse processo criativo.
Ivan: Por causa do nosso processo de composição. Quando vem algo clichê demais, a gente dá uma driblada. Nós queremos sim que a banda traga dinheiro, que possamos realizar nossos sonhos materiais, mas ao mesmo tempo, contraditoriamente, tentamos fugir dos clichês. Mas essa galera não, eles fazem sempre os mesmos acordes, a mesma estrutura. Outra coisa engraçada é que as bandas que identifico como de emocore, por causa da forma de se vestir e das letras, elas não se dizem emo. Parece que é uma ofensa uma banda de emo ser chamada de emo.
Sammliz: Como será que os caras do Bad Religion vêem isso? Eles são os pais. Mas pega uma letra deles, é totalmente diferente.
Pelogia: Quão chato é ser comparado sempre com Calypso?
Sammliz: Não é chato, é engraçado. Já me compararam mais com Ivete, Joelma e Cláudia Leite do que com Pitty. Sinceramente, isso é tão esperado…não me surpreendeu. Me espantaria se me encaixassem em uma coisa totalmente nova, mas as pessoas não tem esse costume. O que eu vou fazer, raspar minha cabeça? Aí vão me comparar com a Britney Spears. Tem uma amiga minha que acha que isso é preconceito, que é uma forma de tentar rebaixar a gente.
Ivan: Mas quem acha que Calypso é uma porcaria, é um grande ignorante. Eles são a maior banda independente do mundo.
ACHO MUITO DIFICIL TER ALGUMA BANDA DE ROCK NO BRASIL QUE FAÇA O QUE A MINHA BANDA QUE AMO FEZ CALYPSO MUITO DIFICIL
CALYPSO PRA QUEM NÃO SABE JÁ VENDEU MAIS DE 8 MILHÕES DE COPIAS DE CDS BANDA INDEPENDENTE FILHOS TCHAU!!!!!!…………………………………………………………………………..
axei q este site se dirigia a rockeiros, independente da sua opnião em relação a outros tipos de musica. agora, se essas bixa barraquera ké vim de fodona
vamo estuda musica e depois vem fala bosta