O novo Pull Down
Por Gustavo Pelogia
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Ultimamente muita gente tem ‘largado tudo’ (mesmo que as vezes não tenham nada) para tentar viver de rock. São Paulo virou um imenso reduto de bandas que fazem as malas e vem de todo canto do país para tentar a sorte. Mas alguns (ainda bem) não vem simplesmente brincar e ‘ver o que acontece’. É o que parece que existe na Pull Down, que saiu de Erechim, 360km de Porto Alegre/RS, para o bairro Vila Madalena, em São Paulo.
Mas após oito anos de banda, 2 discos (um deles lançado pelos selos Urubuz e Ideal Records), a banda virou a aposta de um homem só. Miguel ‘Niper’ Boaventura, 25, vocalista, guitarrista e compositor, veio para cá e depois de já estar aqui, teve de enfrentar o revés: o resto da banda desistiu. A Pull Down recomeça, com três novos integrantes. O que se pode esperar? Confira na primeira entrevista sobre a nova Pull Down.
Niper: Dia 26 de agosto fez oito anos de banda, caralho! O primeiro show a gente tocou só uma música própria, ‘Reparei’ (da demo homônima) e depois covers de Green Day, Blink 182, Offspring. Foi engraçado. Minha veia sempre foi o som mais pesado, só eu não conseguia tocar. Cantar até conseguia, mas não como hoje.
Pelogia: Como assim, não conseguia?
Niper: Queria muito tocar o ‘Enter Sandman’ (do Metallica). Só que um não conseguia fazer o solo, outro não conseguia a bateria. Exige muito mais do que ‘Smells Like Teen Spirit’ (do Nirvana). Dava para fazer, mas eu sou daqueles que ou faz direito ou não faz. Então não fazíamos
Pelogia: Mas porque então, você não procurou outras pessoas para ter uma banda?
Niper: Eu tinha um conceito, que está caindo, de que primeiro os integrantes da banda precisam ser amigos. No começo da Pull Down, só eu sabia tocar. O baterista na verdade sabia tocar baixo. O Drei (baixista) sabia mais ou menos, corria atrás. Eu tocava bem, comparado à eles. Nós eramos ruins, mas a coisa tava dando certo. Só me dei conta disso quando um cara bom entrou na banda. No primeiro ensaio do Cris, as músicas ficaram animais. Foi aí que me dei conta que além de amigos, eu preciso de bons músicos. E hoje eu me considero músico.
*O Cris entrou depois da gravação do segundo disco, em 2006.
Pelogia: Mas mesmo com músicos ruins, vocês tiveram dois discos lançados pela One Life Recordings (‘Ninguém Tem Culpa’, 2004) e outro pela Urubuz e Ideal Records (‘Talvez Seja Esse o Sentido’, 2006), que são selos bem respeitados na cena.
Niper: É por isso que eu estou tão otimista assim. O que sempre falou mais alto na Pull Down foi a honestidade e as letras. Nunca parei e pensei ‘hoje preciso fazer uma música que vai estourar’. Eu tive sorte e a competência de fazer músicas que muitas pessoas se identificaram, mas quando compus ‘Promete’, não esperava que fossem ter tantos vídeos no YouTube. (Entre algumas apresentações da banda, são 112 os vídeos que tem música como trilha, a maioria com a versão acústica)
Pelogia: Você veio para São Paulo em Julho (dia 17), mas veio só. Como foi os caras não virem para cá? Deu para ver pela carta que o Drei postou no site de vocês, que ele tem uma grana, uma certa garantia de vida financeiramente estável lá.
Niper: Espero que sim, né? O Drei era um cara muito prestativo, mesmo não sendo um grande músico. Ele foi a segunda cara da banda, só que o lado musical dele não desenvolveu, acredito que porque não é o que ele quer da vida. E a Pull Down tomou uma proporção que chegou a hora de dar um basta.
Pelogia: Como foi isso?
Niper: Passei seis meses gravando esse disco novo sozinho (“Valor as Coisas Certas”, com previsão de lançamento em 2009). E no tempo livre eu fiquei pensando. É uma questão cultural, de coragem, mas o que mais interessa é o que ele quer fazer. No Sul, as famílias são muito conservadoras, preferem o certo ao duvidoso. Eu não sou assim. Prefiro ganhar R$50 por um tempo, considerando que depois posso vir a ter muito mais, do que ganhar R$1000 para sempre. Porém não é medo ou coragem que diz se o cara é legal ou não. O Drei tem uma empresa de design, namorada, família lá. Foi a opção que ele fez.
Pelogia: Mas você tinha as mesmas coisas que seguraram ele lá?
Niper: (Pausa). Não. A verdade é que não me apeguei a nada, fiquei muito focado a viver de música. Fiz outras coisas, lancei o livro do meu pai e do meu irmão (‘Estou Formado e Agora?’, 2008, independente), mas sempre com o pensamento de não ficar vivendo lá. Poderia estar até hoje cuidando disso. Quando eles me pedem algo, eu faço, mas em seguida eu já volto para a banda.
Pelogia: E o Cris?
Niper: No final de 2006, o Xande (guitarrista) saiu. Convidei o Cassique (da banda Abril, que veio para São Paulo junto com Tavares, da Fresno) para ocupar a vaga assim que mudássemos para cá. O Cris ia vir mesmo, mas acabou se atrelando com outros compromissos e disse para arrumar outro baterista por um tempo. Mas eu sou um cara muito coração, para mim é como se ele tivesse dito ‘não estou nem aí para a banda’. Ele é um ótimo músico, mas eu não posso esperar. Precisava ir em frente.
Pelogia: Foi ai que você ficou sozinho…
Niper: Depois de um mês aqui, quando tudo isso ficou definido, fui atrás dos músicos novos. Primeiro falei com amigos de outras bandas, para me indicarem pessoas. Ao mesmo tempo que elas ficavam perplexas com o fato de eu não ter mais a banda, criava um sentimento bom nelas de ‘ele está aqui, tá batalhando mesmo’. Eu só sabia que precisava de alguém com caráter, personalidade e que tocasse bem.
Pelogia: E quanto tempo demorou?
Niper: No mesmo dia surgiu o primeiro nome. O Sandro (Aditive) me indicou o Rodrigo Thurler que toca ‘na noite’ e segundo as palavras do Sandro ’tá a fim de entrar na roubada do rock’. Explicou que o cara ganha dinheiro com banda cover, mas queria um trabalho autoral. O Sandro me passou uns links do YouTube e ligou para ele. Ao mesmo tempo que eu via os vídeos, ele ouvia meu som. Combinamos de ir no Milo (balada) e acertamos como seria. Faltava só baixista.
Pelogia: E….
Niper: O Rodrigo já se dispôs a procurar o baixista. Surgiu até um nome famoso, de um cara que tá insatisfeito na banda que toca atualmente, mas acabou não rolando. O Rodrigo apresentou o Gustavo, que toca com ele na noite. Marquei um ensaio e foi animal. Na semana seguinte ensaiamos de novo, mas o Gustavo disse que não poderia ficar, por conta de outros compromissos. Ele mesmo nos apresentou o Felipe Gardenal, que está no lugar dele. Tudo tem acontecido muito rápido. Não sei se é a cidade que proporciona isso ou se é porque estou perto de pessoas que trabalham sério.
Pelogia: E quando vocês vão para o palco?
Niper: Quando todos disserem que estão seguros, vamos voltar. Ninguém quer começar se não estivermos afiados. Fomos convidados para tocar com o Paramore em Porto Alegre, por exemplo. Mas não valeria a pena pagar os custos da viagem até lá. A minha experiência me mandou dizer não. Mas fez bem para o ego.
Pelogia: Você tá muito otimista, mas tá fazendo o caminho que todos tem feito. Vir para São Paulo, alugar uma casa e tentam virar artista. Porque o sucesso vai acontecer com você e não com uma outra banda?
Niper: (Pausa). Porque vai (risos). Eu acho que sou eu, mas não excluo os outros. A gente ainda tem muito ainda. Das cidades que entram em contato para fazer show, não tocamos em 20% ainda, tenho um disco pronto pra sair. Além de compor, eu estudo música. Você pode me pegar ouvindo algo, mas eu posso estar escutando só porque o mercado lançou. Uma gravadora grande não lança algo a toa, ela faz uma pesquisa, ela sabe que há um tendência. Eu estou preparado para todas essas variáveis para fazer a banda ‘virar’.
Boas frases:
“Eu sempre quis cantar e tocar, ser o o frontman. Todos os meus ídolos fazem isso.”
“Você é bom em duas coisas, ótimo em uma, e péssimo para todo o resto. Você precisa escolher uma e se focar nela”
“Quando conversamos no ensaio, todo mundo apoio, ‘é isso aí, vamos morar juntos’, tal. Mas na hora do vamos ver, a coisa é diferente.”