Confira o bate=papo com Zu e Isa da banda Sapataria com Guilherme Góes:
– Olá, meninas da Sapataria. Primeiramente, obrigado pelo tempo. Por favor, falem um pouco sobre a banda para aqueles que ainda não conhecem o trabalho de vocês.
Zu: Somos uma banda de HC/punk composta por quatro mulheres lésbicas e nossas músicas falam sobre nossa realidade.
– Por que vocês escolheram “Sapataria” como nome do grupo?
Zu: Desde o início, a ideia da Sapataria era trazer representatividade pro hardcore, que a gente fizesse músicas para os LGBTS se identificarem. Nada mais justo do que nomear o grupo diretamente com o que nos identifica. Para alguns, falar “Sapatão” é pejorativo, mas a gente reverte isso.
– Quais são as principais influências da banda?
Isa: As minhas influências que mais trago para à Sapataria são do Grunge e do Post-hc. Mas ouço de tudo e com certeza há um mix de influências que tento passar para nosso som.
Zu: Cada uma tem influências diferentes, eu com mais rap e música alternativa, a Dan também ouve de tudo e a Marina é a única que realmente só escuta HC. Bandas brasileiras que são influência pra gente são Bulimia, Charlotte Matou um Cara e Teu Pai Já Sabe?.
– Em Abril, a Sapataria abriu o show do grupo russo Pussy riot. Como foi a experiência em participar do mesmo line up com uma das bandas mais polêmicas da atualidade?
Isa: Para mim, foi à realização de um sonho adolescente. Acompanhava quando mais nova o coletivo Pussy Riot e isso contribuiu muito para meu interesse em pesquisar, conhecer e aprender mais e mais sobre o movimento feminista do leste europeu, depois o estadunidense etc. Viver essa experiência com a Sapataria é colher frutos de muito investimento e trabalho. É a conquista de um reconhecimento que esperamos ter sempre mais.
Zu: Foi realmente incrível, porque nunca tínhamos tocado pra um público tão grande. Apesar do nosso som não ser parecido com o da Pussy Riot, ficou bem claro que estávamos compartilhando o mesmo festival e palco porque temos ideais feministas e combativos. Foi muito forte quando a projeção do telão mostrou um texto que dizia que elas poderiam ser presas por tocar na Rússia as músicas novas que estava tocando ali.
– Levando em consideração a temática da banda, a Sapataria poderia ser rotulada como um grupo “riot punk”. No entanto, o som de vocês apresentam certas influências de outros estilos musicais, variando um pouco das outras bandas do gênero. Qual a sua opinião de vocês sobre isso? E como conseguiram combinar essas influências no EP “Sapataria”?
Isa: acredito que à Sapataria poderia ser rotulada de formas diferentes e, minha opinião, é isso que deixa nosso som interessante. A mistura de influências de cada integrante e as combinações possíveis disso na hora de compor.
Zu: Acho que o que resultou nessa mistura de influências também foi o fato de que as músicas foram escritas por várias integrantes (Zu, Dan e Marina), e aí quando as letras chegavam pra banda, cada uma já tinha certa ideia de como queria que a música fosse resultando nessa mistura de estilos.
– Sendo uma banda que aborda abertamente temas da comunidade LGBT, quais são os principais desafios que vocês encaram?
Isa: acho que encaramos os mesmos desafios que à população LGBT encara diariamente, mas em nível comercial principalmente. Conseguir shows fora da bolha feminista do hardcore paulistano é complicado e, ao mesmo tempo, ter que se perguntar o quanto vale à pena fazê-lo se isso implica em estar em lugares/com pessoas com histórico de omissão ou violência direta contra mulheres/LGBTs. Para mim é o maior desafio fazer essas escolhas.
– Individualmente, suponho que vocês já participem da cena punk/HC há algum tempo. Analisando a cena no passado e comparando com o cenário atual, vocês acham que o meio punk está acessível para o debate de questões da comunidade LGBT?
Isa: acho que está acessível muito mais que antigamente, mas que isso está em risco visto o reacionarismo brasileiro nesta última década. É inegável que há mais espaços que antes, mais debate, mas à bandeira da “representatividade” nem sempre é para abrir uma discussão séria que possa transformar as estruturas misóginas e lgbtfóbicas na cena. Ou valorizar o trabalho feito pelas pessoas LGBTs. Sempre devemos pontuar que somos representatividade lésbica e somos uma banda séria, com qualidade e que busca sempre mais.
– Vocês poderiam recomendar outras bandas que participem no mesmo circuito que a Sapataria?
Zu: Bioma, Hayz, Cosmogonia, Bertha Lutz, Derrota, Lili Carabina, Gulabi, Mau Sangue, Messias Empalado, Eskröta, Dopamina, Manaminamona, Casa 8 Feminista, Teu Pai Já Sabe?, entre outras.
= Quais os planos da banda para o resto de 2019?
Isa: Tudo que eu quero é conseguir comprar um pedal duplo para as composições futuras (hahaha). Temos bastante material para ser gravado, talvez um segundo EP e clipes!
– Meninas, obrigado pelo espaço. No vemos no show do Day off! Digam algo para nossos leitores!
Isa: Obrigada pessoal pelo apoio, estamos muito felizes de estar ganhando cada vez mais espaço na cena independente graças à solidariedade e apoio. Continuemos a apoiar novas bandas que tem o objetivo de trazer mais diversidade e pluralidade de ideias.