Após percorrer recentemente as sinuosas estradas da Europa, a banda Turbonegro, um dos nomes mais respeitados do rock europeu, finalmente chega ao Brasil para tão aguardado show de estreia, após 30 anos de carreira. O grupo traz especialmente a turnê promocional do novo álbum “RockNRoll Machine”, em única apresentação no País, neste domingo (15/09), no Carioca Club, em São Paulo.
Em descontraída entrevista, a figura animadíssima e extravagante do seminal baixista Happy-Tom fala sobre a expectativa de desembarcar no Brasil, a repercussão do novo trabalho, a evolução musical com o decorrer dos anos, a amizade com diversas personalidades do black metal e comenta sobre o polêmico “Lord of Chaos”, que voltou a atrair os olhos do mundo para o cenário do rock/metal na Noruega.
Após 30 anos, o Turbonegro finalmente estrear no Brasil e os fãs estão muito ansiosos para ve-los no palco. O que eles podem esperar desta apresentação em São Paulo?
Happy-Tom: Bem, como St. Pauli (em Hamburgo, Alemanha) é o nosso padroeiro é muito apropriado que toquemos nesta cidade brasileira também. A questão é o que devemos esperar? Vamos fazer um acordo: nós trazemos o nosso Rock poderoso e vocês, a festa, OK?
Uma grande incógnita é sobre o setlist que vocês pretendem tocar por aqui. Teremos alguma surpresa?
Happy-Tom: A noite será 3 x 60 minutos de covers do Olho Seco e Ratos de Porão tocados em uma peculiar versão de samba. 4 x 60 minutos se estivermos dispostos. (muitos risos). Brincadeira, podem vir certos de que terão o nosso melhor, em todos os aspectos.
Turbonegro lançou diversos discos, que foram extremamente elogiados em suas devidas épocas. Qual é a motivação e o sentimento em criar algo ainda melhor do que os trabalhos anteriores?
Happy-Tom: Nosso amor pelo rock n’ roll é eterno, infinito. Somos primeiramente e principalmente adoradores de música e acredito que isso é demonstrado no que e como tocamos ao longo dos anos.
“Scandinavian Leather” parece dar continuidade de uma sonoridade mais hardcore para uma espécie de glam-rock. Agora, o novo álbum parece que vocês conseguiram chegar em uma tão almejada personalidade musical? É justamente isso?
Happy-Tom: Na verdade, é uma evolução natural para nós. Tivemos como base de apoio um punk pegajoso com a música “Apocalypse Dudes” e ambos os discos tiveram som gigantescos. Penso que nos encontramos neste ponto com nosso novo álbum. “Sexual Harassment” foi mais a volta ao básico, soando quase uma coisa hardcore, que realmente precisávamos tirar de nosso sistema. Na minha opinião, “RockNRoll Machine” pode ser considerado um de nossos melhores discos, com certeza.
Sim, na minha opinião, “RockNRoll Machine” pode ser considerado um dos melhores trabalhos da sua discografia. Como tem sido o feedback dos fãs e da imprensa?
Happy-Tom: Tem sido surpreendentemente bem recebido e isso não era previsto, porque nós temos fãs muito conservadores, que querem sempre o mesmo estilo toda vez, como se balançassem suas bolas para a mesma coisa sempre. Mas nós tocamos e criamos o que queremos, o que nos der na cabeça, não temos esse pensamento de fazer algo pensando no que os outros vão gostar. Isso não foi dito suficientemente: Turbonegro não é um provedor público, Turbonegro não é o seu pai. (risos)
Como você vê as diferenças entre o seu debut álbum até a chegada de “Rock ‘n Roll Machine”?
Happy-Tom: Cara, isso é muito engraçado, porque o Turbonegro, no começo de tudo, era muito ruim mesmo. (risos) Você sabe como os nerds do rock sempre serão “Oh, essa e aquela banda no início era bem melhores”, porém, no nosso caso, o primórdio era muito ruim. Nós estávamos bêbados e tocávamos músicas horríveis. Hoje, ainda tocamos bêbados, mas nossas músicas são brilhantes. Isso é extremamente perceptível.
Como você vê a falta de criatividade das bandas de rock/metal na atualidade. O que mais tem te atraído nos últimos anos?
Happy-Tom: Eu realmente não sigo muito a música. Na maioria das vezes, ouço apenas o silêncio no meu de fones de ouvido. (risos) Mas pessoalmente, gosto muito de Fucked Up, gosto da banda de John Joseph, Bloodclot, gosto de OFF!, que de fato, o baixista Steve McDonald, que produziu nosso álbum “Party Animals”, disse que queria que eu fosse seu substituto em uma turnê que ele não poderia fazer há alguns anos atrás e isso foi uma honra. Gosto de Hammock, uma dupla shoegazy. Eu tenho uma filha de 2 anos, que ama Enya e estou começando a gostar também. (mais risos)
A banda de black metal Mayhem já mencionou que o Turbonegro é “a banda mais maquiavélica do mundo”. Vindo de quem é, essa declaração é bastante engraçada. Você vê isso com certa verdade ou uma simples brincadeira?
Happy-Tom: (muitas risadas) Esta é uma longa e sensacional estória! Cresci com o Necrobutcher, Euronymous e Satyr. Fenris é um dos meus amigos mais chegados e uma das três pessoas que possuo contato diário fora a minha esposa. Nós somos de um pequena cidade nos arredores de Oslo chamada Follo. Quando aparecemos com uma imagem meio gay ou duvidosa nos anos 90, fazíamos de proposito, especialmente para brincar com nossos colegas conservadores do black metal, porém, eles só riram e foi quando a conotação surgiu. O elo é muito forte entre Turbonegro e essa cena. O Mayhem fez uma versão de “Are you ready for some Darkness”, o Satyricon fez a música “I got Erection”, assim como o Behemoth. Eu costumava tocar no Scum com o Bård Faust e Samoth, do Emperor. Eu também sou um apresentador de televisão e produtor de documentário para a televisão norueguesa e, alguns anos atrás, saímos em turnê com o Mayhem, no México, El Salvador, Guatemala e Costa Rica para fazer o documentário “Bambinos del Satan”. Foi muito divertido! (muitos risos).
Apesar da excelente produção, “Lord of Chaos” causou muitas controvérsias, principalmente por conta de alguns assuntos controversos e até abordagem do polêmico Inner Circle. Qual foi a sua percepção sobre esta obra?
Happy-Tom: Bem, obviamente muitas pessoas de outros países, acreditam que toda a merda que ocorreu na Noruega em 1992 e 1993 foi legal, mas, na minha opinião, não foi. Foi realmente trágico! Muitas pessoas acreditam que foi uma espécie de “Lord of the Rings”, com mágicos do mal e coisas do tipo, mas realmente não foi. Foi mais como “Lord of the Flies” em que um bando de jovens inocentes se encontraram numa febre por sangue tentando superar um ao outro e resultando num fim nefasto. Com isso, eu acredito que a estória foi dita.
Você acredita que este hype criando em cima de “Lords of Chaos” tenha trazido um pouco mais de atenção ao atual cenário do rock/metal da Noruega de novo?
Happy-Tom: O que trouxer mais sucesso ao Mayhem estou dentro. Eles foram pioneiros e criaram um universo que significa muito para muitas pessoas ao redor do mundo e merecem receber todo o crédito suficiente por isso.
Muito obrigado pela atenção e pelo seu tempo, Happy-Tom. Por favor, envie uma mensagem aos fãs brasileiros.
Happy-Tom: Vocês sempre diziam na internet: “Venham ao Brasil!!!”, “Venham para o Brasil!!”. Vocês pediram e agora estamos aqui. Nós vamos fazer vocês se arrepiarem do começo ao fim. Vai ser uma festa muito louca, repleta de rock n’ roll e sensualidade! (risos)
Entrevista produzida e cedida por The Ultimate Music.