Resenha por Rodrigo Vivian.
É meus amigos e amigas, em plena terça-feira calorenta e caótica de São Paulo, fomos privilegiados com uma dobradinha de shows magnífica de dois ícones do Punk/Hardcore, a nata californiana, duas bandas que certamente influenciaram e influenciam a vida de muitos, as lendárias The Offspring e Bad Religon.
BAD RELIGION
Pouco depois da 21 horas surgem no palco os integrantes do Bad Religion de cara com o hit “21st Century (Digital Boy)” inflamando à galera toda! Dificilmente alguém não pulava e cantava junto. Logo em seguida tocaram “Fuck You” e “Anesthesia”. Além dos clássicos a banda decidiu dar espaço no set pra 4 sons do novo álbum “Chaos from Within”, “End of Hisotory”, “Lose your Head” e “Do the Paranoid Style”. Surpreendentemente tocaram a música “The Dichotomy” que muitos não conheciam, inclusive eu, afinal ela é do álbum perdido, o patinho feio da banda, aquele que colecionadores deixam pra comprar por último, o experimental “Into the Unknown”. Sim alguns amam eu sei… bem alguns na verdade.
Dentre todos os sucessos e hits conhecidos, como de costume a banda encerrou com “American Jesus”. Achei o setlist muito bem escolhido, mesmo faltando músicas do “Suffer”. Aí teria ficado mais feliz ainda.
O mestre Greg Graffin com seu estilo singular de cantar (ou como dizem por ai “pregar”) fez uma cerimônia de honra. Como sempre não faltou interação com o público, o estilo de Graffin e os trejeitos são muito característicos, inclusive parece que ele não se cansa, não a toa é considerado uma lenda viva do punk, assim como o trio linha de frente: Baker, Jay e Mike. E não posso deixar de citar o baterista Jamie Miller que caiu como uma luva pra banda, aliás os seus backs são os que mais se destacam na harmonia das vozes. Todos os membros são exímios músicos, e mais uma vez como já é de praxe o Bad Religion fez um grande show! A cada apresentação vemos mais envolvimento, mais qualidade, uma viagem por tudo de melhor que a banda já produziu. Essa é a 11° vez da banda no Brasil, e ela continua maravilhosamente bela e autêntica, assim como um bom vinho. Vale lembrar que todos os integrantes já são cinquentões (exceto Miller), Graffin falou diversas vezes o prazer de estar novamente em São Paulo, afinal faz 25 anos desde sua primeira vez por aqui.
THE OFFSPRING
Pra dar sequência a noite surge no palco o som de “Pretty Fly (Reprise)” a sinfonia mexicana e última faixa do álbum mais popular da banda, o “Americana”, seguida da própria “Americana” e de “All I Want”. Um breve respiro para que Pete Parada (baterista) chamar nas baquetas “Come out and Play” do aclamado “Smash”, lançado em 94, que é até hoje é o álbum independente mais vendido no mundo, com mais de 1,5 milhões de cópias, um recorde que provavelmente se manterá já que mudamos a forma de consumir música ao longo dos anos. Seguindo na linha do que vem acontecendo desde de o ano passado tocaram a inédita “It Won´t get better” que estará no provável álbum de 2020, “Want you bad” (aquela do American Pie) a música que mais ouvia na minha adolescência. Depois de alguns hits dos mais tocados nas estações de rádios até hoje Noodles faz questão de dizer que do set da noite somente dois sons não foram compostos por Dexter.
A banda também deu espaço para uma incrível sequência de dois covers, uma dos Ramones, a clássica “Blitzkrieg Bop” e outra do AC/DC “Whole lotta Rosie”. Entre um som e outro Dexter e Noodles conversavam e interagiam muito com o público. Noodles inclusive brindou e jogou bebida pra galera. Outro momento interessante foi quando Dexter tocou e cantou “Gone Away” sozinho em um piano, uma versão bem corajosa e muito bem executada, com a banda entrando só no final. Já na animadíssima “Why don´t Get a Job” a festa foi completa, membros da equipe arremessaram bolas e rolos de papéis no público que os jogavam de um lado pro outro e até de volta ao palco. Foi aspecto visual ficou incrível! Após o final do show a banda voltou pra um encore de duas músicas “You´re gonna go far, kid” encerrando com “Self Esteem”.
Essa é a primeira vez que a banda se apresenta no Brasil sem Greg K, é fácil de lembrar, é aquele baixista que não sorria, mas que sem dúvida tinha grande precisão. Em meio a processos judiciais a banda segue sem Greg K e agora com Todd Morse (ex-H2O) que já fazia parte do Offspring há algum tempo como guitarra base. A banda também conta com “Jonah Nimoy” na guitarra base e teclados.
Sinceramente sou um grande fã de Offspring, porém também muito crítico a banda, mas esse foi sem dúvida o melhor show que vi deles nos últimos anos, não houve grandes mudanças no setlist como sempre espero e sonho, porém com o que foi escolhido fizeram um show espetacular.
O Espaço das Américas no quesito de som é sensacional, acho isso o mínimo que a produção deve oferecer, afinal uma das coisas mais trágicas é você ver a banda que você gosta em um som ruim, e lamentavelmente isso não é raro de acontecer. Sem dúvida essa dobradinha de bandas foi extremamente atrativa, afinal um Sold Out em uma das maiores casas de show de São Paulo em uma terça-feira é algo respeitável, não é qualquer banda que consegue fazer isso, ainda mais com ingressos caros, o que de certa forma infelizmente deixou muita gente de fora, Com certeza você conhece alguém que ama uma das duas e que deixou de ir por grana. De todos os shows de hardcore que sempre frequentei esse foi o que mais senti a falta de rostos conhecidos.
Termino esse breve resumo dessa noite inesquecível com a resposta que Graffin deu à Folha em 99 ao ser indagado sobre ser punk depois dos 30 (semana que vem ele faz 55 e continua exuberantemente punk).
Folha – É possível ser punk aos 34 anos?
Greg Graffin – “Definitivamente, você pode sê-lo em qualquer época da sua vida. Uma vida em que se questiona os dogmas estabelecidos. Um dos meus objetivos é ajudar a definir para as pessoas o que o punk significa de fato. Hoje tudo é confuso, não há definições claras” .
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Bad Religion
The Offspring
Muito boa a resenha!!