Guilherme Góes bateu um papo com Bruno e Eliton da banda De Carne e Flor. Confira:
Olá, Bruno e Eliton. Muito obrigado pelo tempo cedido para essa entrevista. Como de costume, peço para que apresentem a banda.
Olá, pessoal da Besouros.net. Agradecemos o espaço!
A banda foi formada em 2016, seguida do fim das bandas anteriores do Bruno e do Eliton. Eu, Bruno, toquei guitarra na BLACK CLOVD e o Elitinho foi baterista na We are Piano, além da enorme vontade de integrantes que estavam conosco na época, de iniciarem um projeto – no começo, formávamos um quarteto com o Vitor e Victor.
Nós acompanhávamos as mesmas bandas, nos encontrávamos em shows por aqui e trocávamos links online. Ensaiamos um bom tempo até batizarmos a banda e produzimos o primeiro EP antes mesmo da nossa estreia ao vivo.
Infelizmente, creio que toda essa preparação tomou bastante tempo e acelerou que eles tomassem outro caminho. Bastante gente já passou pelo grupo até agora, agregando à sua maneira, e aceitamos cada formação como parte da história até aqui.
Quais bandas e artistas são as principais influências no trabalho?
Quando começamos a banda, tínhamos em mente fazer um som alinhado com screamo e post-rock. Bandas como Envy (Japão), Jovem Werther (Brasil), Alexisonfire (Canadá) e Touché Amoré (EUA). Essas bandas serviram como nosso “ponto de partida”.
Qual o significado do nome do grupo?
Retiramos o nome da canção “De Carne y Flor”, da banda Viva Belgrado (Espanha). Foi ideia do ex-guitarrista Victor, e após um bom tempo pensando em nomes e nenhum especialmente bom surgindo, consideramos que esse transmitia bem a intenção da banda de passar uma energia visceral e vulnerável. Também é uma ode às bandas veteranas do cenário nacional que se batizaram com músicas de bandas que as inspiraram, como fizeram o Dance of Days, Gloria e (provavelmente) Saddest Day.
Há algum tempo, os integrantes que fazem parte da formação atual da banda estiveram em outros grupos que alcançaram certa influência no cenário independente de São Paulo. Sendo assim, o De Carne e Flor possui uma proposta nova? Ou vocês desejam dar continuidade aos trabalhos antigos?
A banda começou pela necessidade pessoal de não parar e de todos envolvidos de se expressarem. Acho que tudo que tivemos serviu de bagagem, cada um que chega vai agregando suas influências e sua própria experiência. Como dissemos antes, já passou um pessoal pela banda e tivemos a sorte de nos envolver com gente bastante ativa, que combina com esse ímpeto da banda de seguir em frente. Entre eles estão o Dan (Hollowood/Cassanota/Pollux & Castor), o Folha (Navio), o André (O Bicho de 3 Cabeças/Lapso/Jovem Werther/Obscvre Ser), o Guix (Institution/Labirinto), o próprio Bruno com a banda que formou com outros ex-integrantes da Jovem Werther, que é a Ravir. Influentes, eu não sei, mas ao responder isso temos uma noção da nossa atividade e insistência. Ao mesmo tempo, isso serviu como um “reset”. A renovação pessoal e a continuidade coexistem nesse caso. O André frequentemente menciona que é a banda onde ele coloca os seus riffs “limpos” e mais melódicos. Então, nessa banda cada um tem seu motivo para tentar coisas novas tanto no sentido criativo como na estratégia.
No início desse ano, vocês lançaram um Split com a banda chilena Cienfuegos. Por favor, poderiam comentar sobre como aconteceu essa parceria? E como tem sido o feedback até o momento?
O contato começou graças a um cara argentino chamado Enzo. Ele tem uma banda chamada Mis Sueños Son de tu Adiós e iniciou o blog “El Basurero del Emo”, que cataloga as bandas latino americanas do estilo, então graças a ele tivemos uma exposição nos países vizinhos e conhecemos outras bandas. A Cienfuegos estava procurando uma banda para lançar junto e aceitamos felizes o convite. Gravamos as baterias no carnaval de 2020, daí logo em seguida veio a pandemia, então só conseguimos dar continuidade em setembro. Nisso, tivemos que correr contra o relógio, pois a Cienfuegos já havia terminado sua parte por volta de julho, enquanto passamos todo esse tempo ausentes, reaprendendo a lidar com a banda sem a rotina de ensaios e shows. Houve também uma troca de formação (o Folha entrou para substituir o Vitor no baixo), então precisamos de mais um tempo para ele aprender as linhas de baixo.
Durante o processo, o selo canadense No Funeral Records propôs lançar o split em fita cassete, e além do lançamento, realizou uma ótima divulgação, fazendo o split alcançar uns sites de música por aí: Brooklynvegan e revista Idioteq.com onde fizemos tipo um scene report mencionando várias iniciativas locais que apoiamos, além de localmente no Bus Ride Notes, Hedflow e Dissenso Indica.
Neste novo trabalho, quais temas serviram como inspiração?
Ambas as letras – Orquídea e Vergonha – foram escritas no mesmo período em que escrevi as músicas do primeiro EP, mas o contexto de isolamento (no caso da Orquídea, o vertiginoso inferno político) definitivamente as carregaram ainda mais de significado. Quanto aos instrumentais, a Orquídea também foi composta na fase inicial da banda, já a “Vergonha” era uma base que eu tinha guardada dos tempos da BLACK CLOVD e que ajustamos no último ensaio antes da pandemia. Finalizamos tudo de maneira remota através de chamadas de vídeo com o Igor Porto que é o produtor que nos acompanha. São dois sons que tem uma energia mais agitada em comparação aos outros, então o split foi a forma ideal de inseri-las na nossa discografia.
Devido a parceria com a banda Chilena, vocês pretendem realizar alguns shows pelo país andino?
Definitivamente, é um dos nossos maiores desejos e faremos assim que for possível.
Durante esse período de pandemia e sem a possibilidade de shows ao vivo, em quais atividades vocês estiveram envolvidos?
Passamos boa parte do ano passado reaprendendo a levar a banda e um pouco de nós mesmos, já que não era mais possível ensaiar e tocar. Participamos também de um bate-papo ao vivo com o coletivo Caoticagem, que ajudou a unir as bandas nesse período de isolamento, logo após isso, focamos totalmente na produção do split, e agora começamos a pré-produção de um disco cheio. Também buscamos dar continuidade às atividades do Selo Preto, que foi fundado pelo Elitinho. Se antes o foco do selo era a organização dos shows, agora ele está focado em reunir lançamentos de bandas e projetos independentes.
Quando a situação voltar ao normal, quais serão as primeiras atividades da banda?
Esperamos poder ajudar, mesmo que indiretamente, na reconstrução dos espaços independentes que vem se extinguindo a cada dia, pela combinação de pandemia e desgoverno. Temos a sorte de ter os meios de projetar nossas ideias como banda nas gravações, mas poucos serão os espaços para trazê-las ao vivo.
Pessoal, obrigado pelo espaço! Desejo sucesso nessa nova etapa. Por favor, mandem uma mensagem para os leitores do Besouros.net.
Agradecemos o espaço e desejamos que todo mundo se cuide. Esperamos trazer novidades e estarmos todos juntos em breve.