Confira o batepapo de Reynaldo Cruz, vocalista do Plastic Fire, com Guilherme Góes:
Olá, Banda Plastic Fire! Primeiramente, obrigado pela atenção e pelo o tempo cedido para uma entrevista. No começo de outubro, vocês tocaram em três cidades do estado de São Paulo com a banda Gagged. Como foi essa mini turnê? E qual a reação do público em relação aos shows após a banda ter ficado um ano sem excursionar pelo estado?
Reynaldo: Olá, queridos amigos da Besouros.net!
A gente é que agradece de coração e parabeniza pelo esforço de vocês em fazer a imprensa no underground acontecer! São vocês que fazem isso desde sempre e muito bem! Avante!
Nós voltamos a tocar no final de ano de 2017. Mudamos de formação no começo de 2018 (“entrou nosso batera André, vulgo ‘‘bené”) e estávamos empenhados na composição de novas músicas. Sendo assim, começamos a pré-produção de um disco novo, mas nosso querido guitarra Daniel acabou se machucando com a fratura de dois dedos da não esquerda e acabamos entrando em ‘’férias forçadas”, esperando com que ele se restabelecesse. Assim que ele voltou a tocar ( graças a jáh, sem nenhuma sequela), nós recebemos alguns convites e decidimos adiar um pouco o disco novo para voltar à estrada. Valeu a pena! o pessoal da Gagged foi sensacional conosco. Que tremenda banda, foi muito bom conhecer esse pessoal maravilhoso. Os shows da tour foram esplêndidos, em especial o show da casa dos fundo, na capital. Foi uma baita energia e já estávamos com saudades de tocar e em são Paulo, então… que beleza!
– Ainda levando em consideração as recentes turnês da banda, no último mês de dezembro, o Plastic Fire realizou um pequeno show na turnê da banda austríaca nufo, tocando na cidade de São Paulo. Como foi a experiência em participar daquela gig?
Reynaldo: Tocar com pessoas de culturas diferentes é sempre muito interessante porque você se encontra identificado e próximo daqueles que estão geograficamente distantes. O pessoal do nufo se divertiu bastante e pra a gente foi sensacional participar.
– Em 2017, vocês tocaram no Oxigênio Festival, com diversas bandas amigas e que estão em atividade há décadas. Fale para nós como foi participar em um dos maiores festivais de hardcore do país.
Reynaldo: Sem duvida alguma, o Oxigênio é um evento especial por reunir em um só lugar infraestrutura sensacional, uma grande quantidade de bandas e amigos do pais inteiro: não só nos palcos, mas também no público. A experiência foi foda, desde o evento em si ao nosso show. Esperamos voltar em breve, em uma próxima edição!
– Vocês preferem tocar em grandes festivais ou clubes? Qual formato de show combina mais com a dinâmica da banda?
Reynaldo: Plastic fire é o que pode se chamar de uma ‘’banda de contato’’. Nós gostamos do calor humano, e quanto mais contato e proximidade; melhor. Não que os grandes festivais sejam ruins, muito pelo contrário. Tocar no dosol, em natal (RN), foi sensacional, pela organização, tamanho e quantidade de pessoas envolvidas no show; prontos para fazer tudo funcionar e dar certo. Além do grande publico, claro. Mas foram -e ainda são — nos pequenos espaços que nós formamos o nosso público e conhecemos os amigos que vão aos nossos shows, e são esses que confiam na banda enquanto voz e música. Tocar olhando no olho do público é a ‘’cara’’ do hardcore, acho que nós preferimos assim. É mais a ‘’nossa cara’’.
– Recentemente, o Plastic Fire lançou um clipe para a música “Lavanrac”. Vocês poderiam falar um pouco sobre o processo de gravação desse trabalho? Qual a principal mensagem que vocês tentaram transmitir com o clipe?
Reynaldo: A música ‘’Lavanrac’’ foi gravada com a antiga formação (ainda com Marcelo nas baquetas), no estúdio Costella (SP), pelo nosso querido Gabriel zander, no fim de 2017. A gravação ficou tão sensacional que a gente resolveu fazer um videoclipe da música. Convidamos nossos amigos da produtora alima aqui do Rio de Janeiro para rodar esse clipasso, sob a alçada artística de fotografia do senhor Fernando vale, um grande fotografo carioca. Fizemos um roteiro cujo personagem sem rosto (caracterizado pelo exímio ator Felipe Miguel) lida com uma perturbante busca pelas partes perdidas de um manequim que se parece com aquilo que ele mesmo é: fragmentado, parcial e sem vida. A música fala sobre ser feliz e sobre se alcançar em plenitudes, fala sobre como existir de verdade e não parcialmente.
– Após o lançamento do single “Lavanrac”, quais são os planos futuros do Plastic Fire? Podemos esperar o lançamento de um novo EP ou full length?
Reynaldo: Nós já estamos produzindo as músicas novas que abandonamos no começo do ano de 2018 e vamos gravar e lançar agora em 2019. Não sabemos exatamente o formato, mas vai sair sim, e vai sair legal. Agora quantas músicas vão sair, ah, isso é segredo (até para a gente hahahaha).
– Em 2011, o Plastic Fire gravou um DVD ao vivo, mas o material nunca foi lançado oficialmente. Aquele projeto foi abandonado?
Reynaldo: Sim, foi abandonado. A banda já mudou bastante de formação e não faz mais tanto sentido lançar esse material como um DVD. Mas isso não quer dizer que, qualquer dia desses, ele não possa pintar na internet mundial, certo?
– Desde 2016, a violência no Rio de Janeiro se tornou incontrolável. Eu suponho que esse quadro negativo também afetou a cena hardcore, com o público tendo receio de ir aos shows e as bandas encontrando dificuldades para ensaiar. Qual a visão de vocês sobre essa questão?
Reynaldo: A violência no Rio de Janeiro sempre esteve descontrolável — papo de quem sobreviveu aos anos 90 sendo adolescente nos subúrbios da “cidade maravilhosa”. Aqui é uma das poucas cidades do mundo, sem um estado declarado de ‘’guerra civil’’, em que você vê territórios onde um “poder paralelo” ao estado ditas as regras com armas de fogo pesado. Esse é tipo de dificuldade que você tem pra existir no rio de janeiro, e não só pra ir a um show. Acho que o impacto disso no meio hardcore, diretamente falando, é bem pequeno. Acho que se deixa muito mais de transitar normalmente ou em paz pela cidade do que se deixa de ir a um show. Ou seja, tem inúmeros fatores pra um esvaziamento do público na ‘’cena hardcore’’ antes desse.
– O Rio de Janeiro tem uma cena hardcore bastante relevante e ativa, mas o público de São Paulo e do Sul ainda possui certo preconceito com o hardcore carioca, achando que o estilo não possui muita afinidade com o modo de vida local. Na opinião de vocês, quais os principais desafios que as bandas cariocas encontram para ganhar relevância fora da cidade e do estado?
Reynaldo: Sinceramente, não vejo muito ou algum preconceito com as bandas do Rio de Janeiro pelo Brasil, principalmente pela galera da cena hardcore. Pelo menos com a Plastic Fire, nunca ocorreu isso ‘’diretamente’’, talvez não depois daquela fase do ‘’rio core’’, no começo dos anos 2000, justamente na época que a gente começou a tocar e todas as bandas que cantavam em português se intitulavam ‘’bandas de hardcore’’, por que era onda. Mas, com a banda, nunca foi assim, tão direto. São Paulo é a capital em que nós mais tocamos nesses anos todos e Curitiba tem um publico muito presente nas nossas vidas. Acho que talvez falte um pouco de coragem e empenho por parte das bandas do rio em ir tocar fora do rio, até porque excursionar com banda quando você está começando é algo caro de se fazer e requer investimento. Mas, como geralmente o hardcore é o laço que entrelaça caminhos, posso citar um monte de bandas de SP que tem ido tocar constantemente no Rio de janeiro: Cannon of hate, wiseman, blackjaw etc. Bandas do RJ que tem ido pra SP também, como a n.d.r, Circus rock, Join the dance, dentre outras. Talvez o publico esteja se renovando, mas o hardcore é um estilo que necessariamente pressupõe a amizade como terreno sólido e estável para q ele se mantenha, seja na conexão entre as bandas de vários lugares, seja entre o público, também de lugares diversos.
– O Plastic Fire realizou diversas pequenas turnês com bandas estrangeiras ao longo da carreira e imagino que esses shows resultaram em momentos memoráveis. Qual foi a experiência mais marcante do Plastic fire em turnê com bandas internacionais? Há alguma situação que mereça destaque?
Reynaldo: Com certeza foi fazer o show e tocar com o Atlas Losing Grip, a “antiga” banda do vocalista Rodrigo alfaro (Satanic Surfers). Foi sensacional ver um um dos caras que mais me influenciou no hardcore tocando no meu bairro, tomando Corote com os meus amigos e comendo umas bananas que eu comprei em frente ao lugar do show como se fosse uma iguaria dos deuses! Foi Maravilhoso!
– Obrigado Plastic fire pela atenção! Por favor, diga algo para nossos leitores.
Reynaldo: a gente é que agradece! Um abraço a todos os amigos e aos leitores do site! Entrem em contato com a gente! E mais uma vez, Nós agradecemos o esforço de vocês, besouríssimos, pelo interesse, pela coragem e pelo trabalho! Até a próxima! Até breve! s2.