Os integrantes da banda Against the hero bateram um papo com o Besouros.net, falando um pouco sobre o processo de gravação do álbum VOL II, a experiência durante a gig com Face to Face/Strung Out e sobre suas visões particulares acerca da cena hardcore atual. Confira:
– Olá, Diego Kuschnir e Jaime Neto! Muito obrigado por essa oportunidade. Primeiramente, apresentem a banda para aqueles que ainda não conhecem o trabalho do Against the hero.
Jaime: Against the Hero é uma banda independente de Punk Rock/Hardcore Melódico de São Paulo/SP, formada em meados de 2012. Temos 2 discos full [length] lançados — um pela Together Records e o mais recente pela Burning London Records. Nossas músicas focam em assuntos relevantes para o desenvolvimento ideológico e racional, como: religião, política, humanidade e união. Tudo que der para fazer uma critica construtiva e que se encaixa na nossa vivência, abordamos em nosso som.
– Qual o significado do nome Against the Hero? Seria uma sátira com a questão de que um cidadão brasileiro médio está sempre à procura de um “novo messias” ou algo do tipo?
Jaime: Mais ou menos por aí. A ideia inicial seria compor as músicas em inglês, então não fazia sentido um nome em português!
Diego: Queríamos um nome que tivesse um significado forte e representasse nossos “discursos” e criasse um questionamento e uma interrogação na cabeça das pessoas, pois parece ser um pouco contraditório ser contra um herói, pois na teoria, seríamos os vilões ou inimigos e de certa forma é uma maneira de se colocar contra o sistema e ir de encontro com as ideias de uma sociedade doente. Aprendemos a cultuar um salvador, seja ele na religião, na história, na política e acabamos acreditando que somos dependentes de algo ou de alguém para sermos felizes, estarmos seguros ou bem sucedidos, esquecemos-nos de olhar para os heróis de verdade e até mesmo nos colocamos de maneira inferior, como meros mortais, incapazes de alçar voo ou enfrentar uma situação. Somos forjados a ser dependentes… Não somos contra os heróis do cotidiano, mas sim daqueles que se dizem ser!
– Recentemente, o Against the hero abriu o show do Face to Face e Strung Out em São Paulo. Como foi a experiência em participar daquele evento?
Diego: Foi literalmente um baita de um sonho realizado. Dividir palco com bandas que sempre foram nossas referências, temos entre 30–37 anos, então, nos anos 90, Face to face, Strung out, Garage Fuzz e Statues no fire (Nitrominds) eram fontes de inspiração, assim como são até hoje. Sentimos-nos muito honrados. Nunca tivemos grandes pretensões e existia uma brincadeira em uma época que dizíamos “se conseguirmos um dia abrir o show do Strung Out, já valeu a pena” (hahahaha). Outro ponto muito bacana é a exposição que rolou, pois nos deu a oportunidade de conseguir apresentar o nosso som pra pessoas que possivelmente acabariam não conhecendo a gente.
– No primeiro semestre de 2019, o Against the hero lançou um novo trabalho, intitulado VOL II. Vocês poderiam falar um pouco sobre o processo de criação desse novo trabalho?
Diego: O VOL II de certa forma é um disco velho, pois iniciamos a composição dele após dois anos de divulgação do VOL.1, entre 2014 e 2015. Já havíamos sofrido algumas mudanças na formação (saíram Léo e Gustavo e entraram Matheus e Fernando que mais tarde deu lugar ao atual guitarrista Mauro) e uma necessidade de criar sons novos, para consolidar a banda e dar um gás na sequência da caminhada. Diferente do primeiro disco, o método de composição foi feito de forma diferente. Fomos juntando riffs, elaborando as estruturas e praticamente usando a colaboração de todos pra criação da parte instrumental. Tínhamos cerca de 17 sons (uns mais definidos que outros), e no final, escolhemos 11. Infelizmente, recebemos a notícia que Matheus deixaria o país, então corremos para que ao menos ele deixasse as baterias gravadas. Isso fez com que nos acomodássemos um pouco e fomos gravando o restante do instrumental de forma mais tranquila. Fomos nos preocupar em compor as letras quando foi necessário o início das gravações dos vocais, ou seja; nada foi programado nem planejado que fosse feito dessa forma.
– Sem duvidas, a principal mudança que qualquer um que acompanha a banda notou neste novo trabalho foi em relação as composições, já que todas as músicas do material foram gravadas em língua portuguesa. Qual foi a principal razão para essa mudança tão radical?
Jaime: Entre 2013–2015, nós viajamos muito e tocamos bastante para muita gente e em locais diferentes e percebemos que muitas vezes o que falávamos nas letras do VOL I não era captado pela galera pela barreira da língua e queríamos que o público entendesse as nossas ideias com mais facilidade. Soltamos em 2015 a musica “Meritocrisia” que gravamos no Rubber Tracks da Converse nos estúdios Family Mob e Bay Area Estúdios e a repercussão foi a maior que a banda tinha tido desde o lançamento do VOL I. Sendo assim, resolvemos aderir ao português e assumir o desafio de compor tudo mm português. De certa forma, ficou muito mais fácil se expressar na nossa língua. Achamos bem interessante essa mudança, pois lemos um comentário que dizia a seguinte frase: “deviam ter ficado no inglês, ao invés de cuspirem suas ideologias em português “. Porém, se essa pessoa tivesse traduzido o VOL I, concluiria que estávamos “cuspindo nossas ideias” da mesma forma 5 anos antes. (hahahhahahaha)
– Quais foram os pontos positivos e negativos dessa mudança durante as composições?
Diego: Foi bem difícil colocar as palavras de uma forma que soassem bem esteticamente e artisticamente. Somos um tanto quanto perfeccionistas, principalmente em relação à melodia. Na maioria das vezes, nunca estava bom pra nós, o que atrasou um pouco o processo. Só “caímos” para estúdio para gravarmos momento que achamos que as vozes, melodias e letras que estavam concisas.
– Em termos musicais, houve alguma influência especial nesse novo trabalho?
Diego: Temos referências parecidas quando se trata de HC e Punk Rock. Claro que cada um tem suas preferências e também ouvimos outras vertentes e estilos, porém, na época, Strung Out era algo de senso comum (principalmente os discos Exile in Oblivion e Transmission Alpha Delta, que eram recentes na época ). Além deles, tivemos influências de bandas como: Belvedere, A Wilhelm Screm, Face to Face, NOFX, Comebak Kid.
– Como tem sido o feedback dos fãs em relação ao VOL II?
Diego: Tem sido muito bom. A questão das letras em português, além de consolidar melhor nossas ideias ao público, também serviu como um filtro natural. Esperamos que incomode muita gente e que tire uma galera da zona de conforto. Algumas letras podem parecer ofensivas ou raivosas, mas a ideia é essa: incomodar, causar reflexão, indignação. Não é porque somos nós falando que estamos nos colocando de fora da sociedade ou que somos super evoluídos e corretos, mas fazemos uma autocrítica como cidadãos e sociedade. A galera tem escolhido suas musicas preferidas e tem ouvido nas nossas redes sociais. Ficamos bem felizes com essa resposta e esperamos que chegue pra mais pessoas cada vez mais!
Aproveitem o momento para fazer uma auto-reflexão sobre a propinocracia que foi instaurada aqui no nosso Brasil nesses últimos 20 anos. Talvez assim, consigam atingir um pouco de credibilidade e relevancia.