Após a participação na gig com as bandas Mineral e Radical Karma, o vocalista da Ment bateu um papo com o Besouros.net e falou um pouco sobre seu grupo, destacou detalhes da experiência em dividir o palco com uma das bandas mais importantes da cena real emo e revelou informações sobre um futuro lançamento full length.
Por Guilherme Góes. Confira:
Foto — Priscila Bernardes
– Olá, Alexandre! Primeiramente, obrigado pela atenção. Como de costume, você poderia começar falando um pouco sobre a Ment? Início do grupo, formação, tempo de estrada…
Alexandre: A gente que agradece pelo espaço, Guilherme! A banda começou efetivamente no comecinho de 2017, mas a ideia veio em outubro de 2016, com o Felippe (guitarra/voz), que já era meu amigo de internet há muitos anos e o Willian (baixo). Os dois já tinham um baterista e estavam atrás de alguém que tocasse guitarra e que topasse dividir os vocais. Já me coloquei à disposição, mesmo não morando em São Paulo na época, eu vinha toda semana por conta do mestrado. Rolaram uns ensaios com o antigo baterista, a gente teve um entrosamento legal, mas não com ele. Resolvemos correr atrás de alguém que segurasse as baquetas e tivesse mais a ver com a nossa proposta. De um post que fizemos no grupo do Facebook do selo Sinewave, encontramos o Marcelo. Conversamos um pouco alí por volta de novembro, e por conta de fim de ano, provas de faculdade, só fomos nos reunir pessoalmente e tocar em 2017 mesmo.
– Qual o significado do nome “Ment”?
Alexandre: Há quem diga que é porque nosso som é o lugar comum entre Pavement e Basement, mas isso é MENTira (ba dum tsssss).
Na verdade, é um acrônimo para Make Emo Not Trump (hahahahha). Nosso grupo de Whatsapp foi formado perto (ou até no dia) da eleição dele nos EUA, e na onda meio “Make Emo Great Again”, colocamos Make Emo Not Trump. Só que a coisa só foi virar nome mesmo quando a gente precisou de um título. Na semana do nosso primeiro show, a Júlia (que hoje toca na Bioma) estava organizando [um evento] e precisávamos de um nome pra colocar no flyer. Batemos cabeça um bom tempo, até que o Willian falou “Ment”, por conta do nome do grupo. Nós gostamos e acabou dando certo pra gente!
– Quais são as principais influências do grupo?
Alexandre: Dá pra responder com todos os CDs da coletânea The Emo Diaries da Deep Elm? (Hahahah).
Mas especificando um pouco mais, não dá pra deixar de citar: Jawbreaker, Texas Is The Reason, Hot Water Music, Samiam, Mineral, Speedy Ortiz, Superheaven, Lemuria, Hüsker Dü e The Get Up Kids, Ovlov. Isso pra não pular pros fuzzeiros e grungeiros clássicos como: Dinosaur Jr., Nirvana, Smashing Pumpkins, Hazel, Mudhoney…
– No final de agosto, a Ment abriu o show da banda Mineral. Você poderia falar um pouco sobre a experiência que rolou durante aquela gig?
Alexandre: Eu até agora não sei dizer sobre aquele dia. Foi uma experiência e tanto, algo extremamente distante da normalidade dos shows. Foi a primeira vez que conseguimos participar de um show realmente grande e ter uma equipe de apoio e tocar num lugar com uma boa estrutura. Além disso, nós dobramos a frequência de ensaio. O resultado foi um dos shows com o maior entrosamento que já fizemos desde a fundação da banda. Foi lindo ter o palco invadido e ouvir um coro no refrão de Meerhout, 2013. Foi um dia para se levar para resto da vida… aquele tipo de coisa que se conta pra neto com orgulho.
A história de como conseguimos participar do show também é meio doida. Fizemos um show ano passado com o Umnavio e tocamos um cover de Parking Lot aquela noite (costumamos revezar os covers que tocamos nos shows, mas esse é um que rola com frequência). Quando o Mineral lançou Aurora, se não me engano, no mês seguinte, a gente brincou nas redes que teria um show deles no Brasil e que a gente ia abrir. Um conhecido nosso de alguns rolês acreditou, nos perguntou pessoalmente no show do Built To Spill se era sério que o Mineral viria ao Brasil e se a gente ia realmente abrir. Rimos muito — afinal, nem tinha pista de que esse dia rolaria. No dia 9 de janeiro desse ano, a Solid Music and Entertainment fez um post avisando que uma banda emo mais que clássica iria tocar no Brasil. Nem 10 minutos depois, vazou o pôster da tour sulamericana deles. Escrevemos imediatamente um e-mail gigantesco à Solid, nos disponibilizando para abrir. Infelizmente, a banda de abertura já estava fechada. Ainda mandamos um monte de email e fizemos uma campanha pra tentar convencer os caras, mas mesmo assim não rolou. Aí numa tarde do comecinho de agosto, eu estava reunido com a Pri, (editora do clipe do single Meerhout, 2013) para fazer o novo clipe, e ela disse: “Acabaram de pedir recomendações para uma segunda banda de abertura.” Aí a gente subverteu o post e transformou em uma campanha da galera que acompanha a banda pra convencer os caras e, bom… funcionou (hahaha).
O dia do show vai ser um daqueles que a gente nunca vai esquecer. O vôo dos caras do Mineral tinha atrasado e a gente acabou vendo toda a passagem de som deles antes do show. Eu ainda consegui trocar uma ideia com os caras também. Depois a gente subiu pra tocar e foi muito louco ver a mistura de um monte de gente que nunca tinha nos ouvido com muitos dos nossos amigos que já acompanham e cantaram as músicas junto com a gente. Foi legal também conhecer os caras do Radical Karma e aprender um pouco com essa galera que já ta aí na cena faz um bom tempo.
– Particularmente, essa banda tem alguma influência especial em sua formação musical?
Alexandre: Com certeza! A capa do Power of Failing era foto da comunidade “Emo Pinda” (eu sou de Pindamonhangaba) no Orkut, lá em 2004/2005. Passei o ensino médio ouvindo Mineral e sonhava em ver um show como aquele em que eles tocaram junto com o Jimmy Eat World em 1997. Lembro-me de ter conhecido o Felippe de alguns fóruns na comunidade Real Emo, também no Orkut, alguns anos depois, e a gente trocava muita ideia sobre Mineral, The Gloria Record, Pop Unknown e assim vai. O dia 24 de agosto foi muito feliz.
– Mesmo com notáveis influências da cena new grunge, eu reparei que a Ment costuma dividir o palco com bandas de hardcore e pop punk. Você poderia falar um pouco sobre a reação do público ao tocar em eventos com line up compostos por bandas de diferentes estilos?
Alexandre: O público desses estilos tende a ser o mesmo, ou bem parecido, em faixa etária, em interesses e na organização dos rolês, então tem sido bastante receptivo. A gente não tem bem um “rolê” consolidado para chamar de nosso, então a proposta acaba sendo a de tocar o máximo que der em todos os lugares possíveis para e junto de artistas dos mais variados. Vale citar a nossa ida a Guaratinguetá, no Vale do Paraíba, que entre as bandas, estava rolando uma batalha de MCs locais. Isso tem uma pluralidade e uma riqueza cultural que extrapola estilos mais próximos dos nossos. É sempre válido levar seu som para o máximo de pessoas, principalmente havendo verdade e sinceridade naquilo que você apresenta e tal a paixão que você deposita naquilo. Isso é essencial pra dialogar tanto com estilos próximos quanto diferentes.
– Até o momento, o grupo possui apenas algumas demos disponíveis na internet. Vocês estão envolvidos em algum projeto de gravação? Há planos para um futuro EP ou até mesmo um álbum full length?
Alexandre: Estamos com um full length gravado, em vias de ser lançado, provavelmente vai ficar para outubro. São 10 músicas que representam bem esses já quase três anos de banda. Estamos terminando a edição do clipe do primeiro single. A gravação se deu numa experiência DIY na nossa base, que é o quintal da casa da avó do Marcelo. De modo geral, passamos os últimos dois anos aprendendo bastante. Foram diversas tentativas, aquela primeira demo Fitzgerald Can’t Be Wrong, daí a versão do clipe de Meerhout, 2013, entre elas houve um salto no aprendizado, e também na quantidade de microfones que conseguimos comprar/pegar emprestado. Cansativo e divertido, eu diria. O Marcelo é o que sofre mais, afinal ele que está conduzindo toda a gravação e produção.
Foto — Priscila Bernardes
– Como foi o processo de composição deste trabalho?
Alexandre: O processo de composição se deu ao longo dos últimos três anos, sem uma regra ou direcionamento específico. As letras são minhas, com exceção da música Unavoidable, que foi escrita pelo Felippe. As melodias vieram antes, depois ou mesmo junto à escrita. O Willian trouxe muitas ideias de bases (vira e mexe chega áudio dele com alguma coisa interessante). Foi o caso de Meerhout, 2013, por exemplo, que o instrumental foi criado num ensaio e a letra foi encaixada só na semana seguinte. Fitzgerald Can’t Be Wrong foi uma música escrita em 2013, na época em que eu tocava meu projeto solo chamado “Quinze Meses”. Ela combinava bastante com a pegada e a proposta da Ment e foi a primeira música a sair funcional nos ensaios. Antes de começar a gravação, nós juntamos 12 músicas e escolhemos 10 para este trabalho.
– Quais são os planos para o resto de 2019?
Alexandre: Lançar o álbum é a prioridade imediata! Mas também manter uma boa frequência de shows, tocar em outras cidades para fora da capital e gravar mais um clipe, para o segundo single do CD!
E ah, claro, esquematizar uma turnê para entrar em 2020 rodando para fora do estado pela primeira vez!
– Você poderia recomendar bandas interessantes da cena underground atual?
Alexandre: De cabeça, vou citar 10: Um Quarto, Bioma, Nâmbula Mangueta, Topsyturvy, Loyal Gun, Weedra, Seamus, Hurry Up!, Wiseman e Derrota.
– Alexandre, satisfação total por essa oportunidade. Desejamos sorte para a Ment ao longo desses últimos meses do ano de 2019. Agora, diga algo para nossos leitores.
Alexandre: Guilherme, obrigado pela entrevista, pela qualidade das perguntas e ao pessoal da Besouros.net por apoiar bandas que estão surgindo. Aos leitores, acompanhem nossas redes, que bem logo teremos novidades do álbum e agenda de shows, nos vemos em breve!
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