Entrevista com Ilya, da banda Russa Ankylym. Essa banda está em turnê com o The Restarts pela América do sul, e irá tocar em São Paulo neste final de semana. O vocalista Ilya bateu um papo comigo, e falou um pouco sobre música, influências, turnês e problemas sociais. Confere aí! Por Guilherme Góes.
1- Primeiramente, obrigado Ankylym pela entrevista. Gostaria de iniciar a entrevista com algumas perguntas clichês. Desde quando vocês estão tocando juntos? E quantos integrantes fazem parte da formação atual da banda?
Ilya: Você é mais do que bem vindo, meu amigo! Agradeço pelo interesse em querer saber um pouco mais sobre nossa música e a história de nossa banda.
Deixe-me falar sobre nossa atual formação: Alina (la Magnifique) — baixo, Kolya (Kolyan) — bayan (acordeon russo), e vocais, Roma (RA Pavlov) — balalayka, vocal, Alexej (Makarov) — bateria, eu (Ilya il-78) — vocais, trompete, etc. Ilja (Kvas) — nosso engenheiro de som.
Nosso primeiro ensaio aconteceu no dia 27 de maio de 1997 — e nós consideramos essa data como o “dia de nascimento do Ankylym”. Nós começamos com 4 integrantes, mas apenas Kolya (guitarrista) e eu (il-78) somos da formação original.
Roma foi nosso colega durante a época da faculdade, e entrou para a banda em 2000. Até 2003–2004, nós costumávamos tocar um punk/hardcore experimental com algumas misturas de rock tradicional. É possível encontrar nossos primeiros trabalhos (1998–2003) no Bandcamp da banda.
Devido alguns problemas na formação original, a banda começou a fazer um som acústico, e as guitarras foram trocadas por Balalaikas and Bayans (instrumentos tradicionais Russos). Então, essa nova página da banda começou em 2004. Isso foi divertido, pois tínhamos um som “fora dos padrões do punk e do metal extremo”.Após algum tempo, Alina e Alexey entraram para o grupo. Inicialmente, a intenção deles era de apenas participar nas gravações, mas acabaram ficando como membros fixos (embora Alexey viva em Moscou e nos reunimos apenas para shows e ensaios).
2- Por que o nome “Ankylym”? E o que isso significa?
Ilya: O Ankylym tem uma conexão com a Faculdade de Sociologia (Universidade estadual de St. Petersburg), onde 3 de nós costumávamos estudar — Kolya, Roma e eu. Junto com Kolya, (uma das fundadoras do Ankylym), nós decidimos montar uma banda e ensaiar, e ouvimos a palavra “Ankylym” em uma palestra sobre etnologia — esse é nome de uma das tribos que residem no extremo norte da Rússia.
Provavelmente, nós erramos na hora de escrever este nome pela primeira vez, mas de qualquer jeito, nós gostamos de como essa palavra soava. Resolvemos desenhar um Chukcha dançando, e isso ficou como logo da banda. Com base neste nome, pensamos em instrumentos musicais que essas pessoas que vivem em regiões afastadas usam, e resolvemos adicionar uma “vargan” (harpa tradicional) para combinar com o som da bateria, guitarra e baixo.
3- Quais bandas influenciam o som de vocês e como você descreve o estilo da banda?
Ilya: Há várias bandas que nos inspiraram ao longo dos anos, entre elas: Terveet Kädet, NoMeansNo, Dead Kennedys, Einstürzende Neubauten, Sonic Youth, Dog Faced Hermans, Už jsme doma e Melt-Banana.
Gostamos de bandas aqui da Rússia da década de anos 90s como Himera, Jugendstil, Zabavy Prostolyudina e outras.
Mesmo usando alguns instrumentos tradicionais nas músicas, nunca definiria o Ankylym como folk ou ethno, embora possa aparentar isso para quem escuta nossa banda pela primeira vez… Para mim, art-core ou blackened crust nos descreve bem. Nosso uma banda de “Experimental folk-hardcore”…
4 — Ankylym realizou uma turnê no Brasil e na Argentina em 2012. Como foi essa turnê? Vocês possuem boas lembranças do público da América Latina?
Ilya: De fato, foi uma grande experiência! Se não tivéssemos gostado daquela turnê, não iriamos realizar outra por aqui.
O que me chamou a atenção foi a mentalidade das pessoas: elas são muito parecidas com os Russos. Emoções, comportamentos, estado de espírito… a natureza é muito bela por aqui também.
5 — Vocês estão animados para essa nova turnê na America do Sul?
Ilya: Com certeza! 150%! Estamos ansiosos e empolgados para novas experiências. Queremos conhecer melhor esses países, conhecer novas pessoas, novos lugares e aprender mais.
6- A banda lançou um livro recentemente sobre aventuras do Ankylym em turnês internacionais. Você poderia falar um pouco sobre este projeto?
Ilya: Bem, nós escrevemos sobre experiencias em turnês anteriores (2005,2008 e 2012) em alguns países da Europa, e também sobre as experiências da tour Brasil/Argentina em 2012. Ano passado, celebramos o aniversário de 20 anos de banda, e decidimos juntar todos os nossos registros e lançar tudo em um livro. Foi algo bem legal. Recebemos feedbacks positivos dos leitores. As pessoas gostaram. Nós também fizemos um documentário sobre a nossa turnê no Brasil e na Argentina. É possível encontrar esse documentário no YouTube.
7 — A banda Ankylym já existe há muito tempo. Na sua visão pessoal, você alcançou seus objetivos como membro de uma banda? Quando você começou este projeto, acreditou que sua banda teria a chance de tocar em tantos países?
Ilya: Certamente, nunca planejei ou pensei sobre isso, mas aconteceu! Nós sempre fomos amigos e estamos nos divertindo com o que estamos fazendo. Esse é o lema da banda. Nós gostamos de tocar, sair por aí juntos e gostamos de descobrir coisas novas — territórios, pessoas, sons etc.
8 — O que podemos esperar de um show ao vivo do Ankylym?
Ilya: Você deve esperar nada ou qualquer coisa — vamos quebrar alguns estereótipos. Você pode esperar algo imprevisível e novo. Seremos apenas honestos com nosso trabalho e com nossas emoções. Venham conferir!
9 — Aqui na América do Sul, sempre olhamos para a Rússia com muita curiosidade. Você sabe… fica do outro lado do mundo. Você poderia nos contar um pouco sobre como é a vida aí na Rússia?
Ilya: Bem… O que posso dizer… O território da Rússia pode ser comparado ao Brasil. É um país grande.
O estilo de vida nas principais cidades é bem diferente do estilo de vida daqueles vilarejos que ficam em lugares remotos.
Atualmente, estamos passando por um momento bem cruel e difícil. Há diversos problemas na esfera econômica, política e social. No entanto, há pessoas boas aqui. Temos bons amigos e pessoas confiáveis ao nosso lado — e isso para nós é algo muito importante. Nosso país possui uma grande cena musical. Somos ricos em arte, cinema e temos uma ótima cultura underground. A natureza é bonita e arquitetura é incrível, mas também existem coisas feias e assustadoras aqui.
Você pode vir e ter a sua própria impressão!
10 — Atualmente, quais são as suas bandas favoritas? Poderia recomendar alguma banda ou artista Russo? Particularmente, gosto de Splean, Zemfira e Kino.
Ilya: Essas que você mencionou, eu diria que não são as melhores da cena Pop-rock aqui da Rússia (hehe).
O Splean tinha algumas músicas aceitáveis nos primeiros anos. Zemfira… eu até concordo que o primeiro álbum é bom. E sobre a banda Kino… Bem, eu escuto essa banda desde os meus 12 anos, eles eram ótimos.
Você também pode gostar de Mumiy Troll, grande banda do final da década de 1990.
Os membros da Ankylym gostam de diferentes tipos de música de todo o mundo — depende do gosto pessoal de cada membro. Posso apenas citar algumas influências: Lightning Bolt, Portishead, Depeche Mode, Merzbow, Bobina, Rad Snapper, Nosecore japonês e death-doom dos anos 90s.
E sobre música russa , eu mencionaria Auktion, Grazhdanskaya Oborona, Zvuki Mu e Televizor.
Música independente dos anos 90: Himera, Jugendstil, Messer Fur Frau Muller, Pauki, Zabavy Prostolyudina, Markscheider Kunst, Spitfire, Kirpichi e Tequilajazzz.
Agora também há algumas boas bandas, e algumas são bem conhecidas na Europa — Vir, Uratsakidogi, Chumaho Drew, Coffin Wheels, 4Scums, Distress, Pospish Potom, Duke Nukem e Antimelodix.
11 — Vocês conhecem algo sobre música Brasileira? Conhece alguma banda brasileira de hardcore/Punk?
Ilya: Com certeza! Quase todos os russos conhecem o Sepultura!
Também conheço o Cólera, RDP, Sarcófago e algumas outras boas bandas — não vou lembrar os nomes agora.
Um amigo de um selo alemão que lançou alguns trabalhos da Ankylym chegou a nos apresentar uma banda chamada Ação direta. Em 2013, uma banda Brasileira chamada ARD tocou em São Petersburgo e, em 2012, tocamos com algumas bandas locais, entre elas Tuna, No Ordёr e Operação 81. Eu também conheço Os Catalépticos, embora eu não sou um grande fã de psychobilly.
12 — Palavras finais?
Ilya: Stay heavy! Mantenham seus corações e mentes abertos! Nos vemos em breve!