Batemos um papo com Christian Targa (Gordo) das bandas O Preço, Surf Aliens e Blind Pigs. Por Guilherme Góes. Confira:
Olá, Gordo! Aqui é o Guilherme! Muito obrigado por ceder um tempo para responder essa entrevista para o Besouros.net. Como de costume, poderia começar essa entrevista falando um pouco sobre sua nova banda?
Gordo: E ae, Guilherme e amigos. O prazer é nosso, mano. Muito obrigado pelo espaço e o convite para esse papo. Bom, vamos lá…
O Preço é uma banda de punk rock em português – um quarteto. Atualmente, estamos lançando nosso primeiro 7 polegadas em vinil, com 2 músicas. O trabalho será lançado pela Detona Records, Neves Records e a Vertigem Discos. Já o nosso primeiro disco foi lançado em 2019 também pela Detona e Vertigem, em uma parceria com a Otitis Media Records do Texas, EUA, e a Comandante Records da Europa. O álbum foi lançado em vinil 12 polegadas e em CD Digipack, com 14 músicas.
Quais são as principais influências do quarteto?
Gordo: Basicamente, todas as vertentes do punk rock, passando pelo velho ska, hardcore anos 80 americano… as influências são muitas e variadas.
Você poderia explicar o significado do nome da banda? Há alguma mensagem política ou de protesto neste título?
Gordo: “O Preço” tem a ver com o resultado de um passo, um ato. Tudo tem seu preço, e você tem que pagar o preço pelos caminhos que escolhe. É por aí…
Durante mais de duas décadas, você participou das bandas Blind Pigs/Porcos Cegos. Sendo assim, como você encara este seu novo projeto? Em sua opinião, o grupo “O preço” é uma continuação do trabalho que você já vinha fazendo, ou a banda possui uma proposta totalmente nova e diferente?
Gordo: “O Preço” segue sim um linha meio parecida com o Blind [pigs]. Se você for levar em consideração o fato de ser punk rock com melodia e em portugues….mas não tem muito como fugir, até porque eu era junto com o Henrike, o principal compositor, então é natural soar um pouco parecido, assim como o som do Armada que também lembra o BP em alguns momentos. Isso é natural, pois foram mais de vinte anos de BP na nossa pele, no nosso DNA, mas em alguns sons, eu tentei soar diferente nos arranjos d’O Preço. Eu destacaria o caso das influências skas, algo inédito nas minhas composições.
Em 2019, a banda lançou o álbum de estreia. Você poderia mencionar como foi o processo de gravação e composição deste trabalho?
Gordo: Foi um processo de praticamente dois anos, até achar uma boa formação, com pessoas envolvidas e comprometidas com o trabalho. Após isso, entramos em estúdio, gravamos com o Fabio Yamamoto em um estúdio no Tamboré, em Barueri. Em seguida, o Aila Ardanui entrou e mixou/masterizou o disco para CD. Já a masterização para vinil foi feita pelo meu saudoso amigo Bruno Pompeu. Entre o início da gravação até o término, foi praticamente um ano… foi um parto e quase desisti no caminho (hahah). No entanto, gostei muito do resultado.
Além disso, como foi a recepção dos fãs que já acompanhavam o seu trabalho em outras bandas?
Gordo: Acho que o grande desafio do recomeço é você conseguir que as pessoas que sempre ouviram sua antiga banda conheçam a sua nova banda. A receptividade tem sido muito boa e já conquistamos coisas legais em pouco tempo. Graças a um trabalho conjunto entre selos, músicos e parceiros que ajudaram em todo esse trabalho realizado, tudo tem ido bem. Não faço nada sozinho e nem quero fazer – quanto mais pessoas boas envolvidas em todo processo, melhor o resultado.
No mês de fevereiro, durante uma apresentação na Mutante Rádio, você mencionou que o grupo pretende lançar mais um álbum ainda em 2021. Você poderia destacar mais detalhes sobre esse lançamento?
Gordo: Sim, tenho já algumas músicas, mas estamos esperando o que virá depois dessa maldita pandemia para botar todos nossos planos em prática sem correr riscos ou expor nossos familiares em risco.
Após mais de 20 anos de estrada, os Porcos Cegos encerraram suas atividades no ano de 2016. Embora tenha se passado apenas 5 anos desse acontecimento, quais as principais mudanças que você observa na cena durante esse período?
Gordo: Bandas mais bem produzidas, selos mais organizados, muita gravação boa e muita gente preocupada em fazer algo de qualidade.
Nos últimos anos, muitas casas de shows de punk rock encerraram suas atividades, e o público aparenta não se renovar. Qual a sua opinião sobre o futuro do movimento?
Gordo: Exatamente o que comentei, não vieram novas gerações nos shows….mas as bandas estão aí, os selos, os jornalistas, a mídia independente… então o underground nunca vai acabar. Eu espero que tudo só melhore, só cresça e que todo mundo se profissionalize cada vez mais.
Além disso, você já está há muitos anos envolvido com a cena punk rock. Por favor, poderia comentar um pouco sobre os shows que você fez quando começou a se interessar por esse tipo de música e quais bandas ouvia e acompanhava durante seus anos de formação?
Gordo: Eu comecei ouvindo rock muito novo. Conheci o punk rock com 11,12 anos, ouvia muito Ramones, Clash, Pistols, Forgotten Rebels…. ae aos poucos fui conhecendo outras bandas, tão boas quanto, ou quase, isso com certeza influenciou no meu estilo de tocar, no meu jeito de pensar ,de agir etc. Mas quando montamos o Blind [pigs], eu era o único que sabia tocar algo… já havia tocando em algumas bandas covers e tal, toquei na escola, toquei em festa junina (haha). Era pura diversão e descobrimento, mais de brincadeira mesmo…. depois que montamos o Blind, ele foi crescendo e tal, mas nunca tivemos essa intenção, muito menos planejamento… foi algo que rolou naturalmente.
Já analisando de um ponto de vista mais pessoal, poderia mencionar qual foi a lição mais importante que você aprendeu com o punk rock?
Gordo: Pergunta difícil (haha). Muita coisa boa e muita coisa ruim… como tudo na vida. Mas não me arrependo de nada e nem do caminho que eu escolhi. Sempre fiz tudo que eu quis, do jeito que eu quis, e essa autonomia foi o que me manteve sempre nessa estrada. Na maioria das vezes, uma estrada ingrata, porém, a satisfação pessoal em fazer o que eu gosto me motiva a continuar.
Para finalizar, como você enxerga o cenário político atual? Além disso, na sua visão, qual a importância de músicas de protestos neste momento delicado que estamos vivendo em nosso país?
Gordo: Um país que tem tudo pra ser um bom lugar, mas que tem um presidente de merda que tem afundado o pouco que sobrou daqui, vivemos num país onde a lei só funciona para poucos, onde o povo não tem acesso à educação ou o básico, como alimentação ou um pouco de saúde, pagamos impostos absurdos em tudo. Então, o punk rock é uma válvula de escape para expor todos os problemas injustos que os governos nos impõe. É muito triste, vergonhoso… estamos pela sorte, estamos no auge do caos, e me sinto na obrigação de trazer isso para dentro das letras da banda.
Gordo, obrigado pela atenção. Por favor, diga algo aos nossos leitores.
Gordo: Muito obrigado pelo espaço, Guilherme.
Obrigado a todos que leram esse papo, se cuidem, se protejam, protejam os seus, usem máscara e álcool gel, se vacinem, e não percam jamais a esperança e nem o próprio brilho, tenham esperança que logo tudo isso melhora, e vamos trabaiar! E pau no cú do bozo, boçal imundo, genocida, que pague por todos os crimes contra os brasileiros, e quem o apoia que abra os olhos para a realidade, olhe sua nota de custo de gasolina/gás, ou a sua nota do supermercado, só olhe a sua volta e acorde para a triste realidade!
Muito obrigado a todos. Viva a revolução!