Dan Pereira do Running Like Lions bateu com Guilherme Góes sobre a história da banda e suas influências. Colaboração de Cezar Haruo. Confira:
Olá, Dan e Running like Lions! Primeiramente, obrigado pela oportunidade. Por favor, fale um pouco sobre a banda para quem ainda não conhece o trabalho de vocês.
Dan: Obrigado a vocês pela oportunidade! Bom, nós iniciamos em 2011, depois que eu, Caio e o Peras deixamos a banda H.E.R.O, onde nos três tocávamos guitarra. Desde então, já lançamos dois discos, um EP e dois splits. Nós somos uma banda de punk rock, e todos nós, individualmente já fizemos parte de muitas bandas ao longo dos -pelo menos- últimos 15 anos (Os Thompsons, Good Intentions, Cristo Bomba, Mary Chase, Atrial, Children of Gaia, etc) e ainda seguimos fortes! Hoje a banda conta com: Bruno Peras (g/v), Dan Pereira (g/v), Caio Saad (b/v) e Roberto Abreu (bateria).
– A banda está parada nos últimos tempos e não tem feito muitos shows ao vivo. Vocês estão gravando algum novo material?
Dan: Sim. Na verdade, após a chegada do nosso novo baterista (Roberto Abreu), tivemos que praticamente reiniciar o processo de composição e também investir um bom tempo de ensaio para que ele pudesse aprender tudo e assim pudéssemos voltar a tocar novamente. Claro que isso também gera a necessidade de baixar um pouco a frequência de shows para focarmos totalmente em coisas novas. Ainda não gravamos, mas sim temos mais planos de gravar possivelmente em breve.
– Durante os dois primeiros trabalhos, vocês apenas gravaram músicas em inglês. Quais os principais motivos dessa escolha? No início, vocês pretendiam alcançar repercussão internacional? Ou foi apenas uma questão de comodidade e identificação?
Dan: Na verdade, nunca tivemos ambição nenhuma no âmbito internacional, ou algum motivo além de: Não temos talento para escrever em português (hehe).
Não sabemos nem se em inglês também na verdade, porém, admitimos totalmente que o português como música se torna complexo para nós, sendo bem honesto mesmo. Também tem o lance de influência, pois antes de descobrirmos que existia um mundo acontecendo aqui, e apesar de na época já ter gente já cantando em português há anos, todas nossas influências cantavam em inglês, então de alguma forma isto também está no nosso background.
– Levando em consideração o momento conturbado em que o Brasil está passando, será que podemos esperar músicas em português nos futuros lançamentos?
Dan: Não vou dizer nunca, mas gostaria muito. Mas mesmo assim, teremos coisas influenciadas por este momento, gravadas no futuro próximo com certeza. A mensagem tem que ser passada, não importa a língua, neste caso especificamente, nunca fizemos nada deste tipo anteriormente.
– Quase três anos se passaram desde o lançamento do último álbum “Rude Awakening”. Com tem sido o feedback dos fãs em relação ao disco até o momento?
Dan: Bem, a gente tem reações mistas o tempo todo, muito porque, quem nos acompanha, talvez esperasse aquela veia que tínhamos no primeiro disco. Por outro lado, a gente percebe que por mais diferente que ele possa soar em relação ao “Into the Pride”, ainda tem a nossa essência. As reações mistas mostram que o nosso propósito de sair da nossa zona de conforto musical funcionou e isso é positivíssimo para nós.
– O “Rude Awakening” apresenta uma sonoridade muito mais madura e trabalhada em comparação com o “Into the pride”. Durante as gravações daquele álbum, vocês tiveram alguma influência especial?
Dan: Sim. O nosso processo de composição mudou um pouco naturalmente de um disco para o outro. Isto também é muito resultado das nossas influências musicais de acordo com nossos momentos pessoais individuais na época. Lembro que a gente, em geral, estava ouvindo muito Fugazi, Jawbox, Helmet, Samiam, Boy sets fire, Thrice, o split do Balance and composure com o Braid e Dag nasty o tempo todo. Lógico, muito Magüerbes , Hateen, Better leave town, End of pipe e Garage Fuzz. Não necessariamente nossa essência e influência mudaram, mas acho que estávamos “numa vibe” mais densa musicalmente falando e acho que isto resultou bastante nesse amadurecimento aparente no som.
– Atualmente, vocês continuam como uma banda totalmente independente ou contam com o apoio de algum selo para distribuição dos discos?
Dan: O último disco foi lançado e é distribuído pela HBB, que fez e faz um trabalho que, com certeza, foi à coisa mais legal que já lançamos com qualquer outra banda que tivemos. Este por enquanto é o nosso “atualmente”, uma vez que apesar de termos muita coisa nova escrita, ainda não sabemos muito bem o que fazer com isso e quando isso vai se concretizar. Claro que por nós, trabalharíamos com eles pra sempre, porque o trampo que eles fazem lá, desde o tratamento com as bandas, planejamento e qualidade, é realmente algo que eu nunca tive antes e é difícil de ver aqui, então, vamos ver o que o futuro nos reserva.
– Você está em atividade por mais de 10 anos na cena hardcore. Você poderia mencionar qual foi o ponto mais baixo e o mais incrível que vocês já testemunhou participando de uma banda independente?
Dan: O mais incrível foi ver um monte de banda aparecendo, organizando shows e lançando coisas. É ainda mais incrível o quanto tem gente das antigas ainda fazendo um monte de coisas também. Pra nós, como banda, enquanto tiver gente fazendo, vai ser sempre incrível. Acho que ver o CPM 22 tocar no Rock in Rio também foi foda!
O ponto mais baixo é agora, ver um monte de gente ligada ao punk e o hardcore apoiar a extrema direita. Este pra nós é o fundo do poço.
– Em dezembro, vocês irão retornar para São Paulo e irão participar de uma gig com a banda austríaca nufo. Ao longo da carreira, vocês participaram de algumas pequenas turnês com bandas internacionais em diversas cidades. Qual a turnê em que o Running like lions participou com bandas “gringas” que foi a mais marcante? Algum momento que vale a pena destacar?
Dan: Nunca fizemos uma tour com nenhuma gringa ainda, mas as poucas oportunidades de abrir um show ou outro são destacáveis para uma banda como a gente. Fazer uma parte da perna sul com o Kosslowski(ALE) e o Sugar Kane foi iradissmo! Claro que abrir pro Atlas Losing Grip, Sport, Flatcat e Antillectual foi louco também! Uma surpresa a ressaltar foi abrir para uma banda chamada Our Last Night, porque, não só tivemos um tratamento impecável da organização, como o público dos caras, que não tem nada a ver com o nosso, que nos aceitou, assistiu, comprou discos e algumas pessoas até se tornaram caras novas em outros shows que fizemos. Ter oportunidades como esta que teremos, de abrir para o nufo, com este monte de bandas que a gente admira também, é mais uma chance de aprendermos mais como banda.
– Você ainda acompanha a cena hardcore da cidade de São Paulo? Poderia recomendar algo interessante?
Dan: Sim! A dica é: comprem discos! Tem um monte de selos contribuindo historicamente para o nosso país e estamos perdendo! Compareça aos shows e contribuam para que eventos como este com o nufo continuem acontecendo. Quanto a bandas (umas novas e umas com estrada já) eu particularmente indico para apreciação, pois são as que estão em nossos sons recentemente: Taunting Glaciers, Basalt, Rastilho, Noala, Never Too Late, Vício, Angular, Zero to Hero, Institution, Direction, End of Pipe e Bad Canadians.
– Novamente, obrigado pela oportunidade! Fale algo para nossos leitores.
Dan: Muito obrigado a vocês, que sempre apoiaram a gente, desde o começo!