Prestes a desembarcar no Brasil e América Latina, nosso colaborador e amigo Rodrigo Vivian conversou com Alexis Trépanier, guitarrista da banda canadense Mute!
Por aqui a banda fará shows em 4 capitais: dia 01/02 em Porto Alegre/RS, 02/02 em Florianópolis/SC, 03/02 em Curitiba/PR e dia 04/02 em São Paulo/SP.
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Confira nosso bate-papo com Alexis:
Olá, tudo bem? Vocês ouvem alguma banda do Hardcore brasileiro?
Ei cara, estou ótimo, obrigado! Tenho vergonha de dizer que não conheço muitas bandas brasileiras. Reffer e Dead Fish me vêm à mente. E algumas bandas que conhecemos e tocamos em alguns de nossos shows, como o Bullet Bane, One Minute Less, Hunger United e 69 Enfermos.
Como vocês enxergam a cena HC no Canadá hoje em dia comparada com os anos 90?
Infelizmente, tenho que dizer que está longe de ser tão bom quanto foi no final dos anos 90… Vamos ser sinceros, a metade posterior dos anos 90 foi a era de ouro do punk rock new school. Os shows eram lotados o tempo todo. Bandas locais, bandas de passagem, dias da semana, fins de semana, não importava. Agora é muito mais difícil. Há muito menos pessoas na cena, menos bandas, menos shows. Não há muitos mais jovens também, portanto, quase nenhuma banda nova. Qualquer cena musical precisa de sangue jovem para mantê-la avançando e isso não está acontecendo no momento.
No Brasil temos visto casas de shows underground fechando, alegando falta de renovação de público, o que nos deixa muito tristes. No Canadá isso também tem acontecido?
Sinto muito por ouvir isso. Aqui no Canadá, os locais às vezes fecham porque eles vão a falência. É muito caro manter uma casa de shows e muitas vezes o dono tem que confiar nas vendas de álcool para manter o lugar em andamento. Outras vezes as casas tem problemas com o vizinhos. Podem haver muitas queixas sobre o ruído e coisas assim, então o lugar acaba fechando por isso.
Vocês já tocaram em São Paulo em um local para mais ou menos 100 pessoas, também tocaram em um festival bem maior com outras bandas, e agora estão vindo como headliner em uma casa para 350 pessoas. Sinto que o público do Mute tem aumentado no Brasil, vocês também sentiram isso?
O Brasil é um país que sempre recebemos muitos feedbacks positivos, então nós sabíamos que definitivamente havia algo a mais lá. Mesmo nos dias do Myspace, tínhamos contato com pessoas do Brasil. Toda visita ao Brasil tem sido muito especial para nós e sempre nos sentimos extremamente queridos pelo povo brasileiro.
O álbum novo ficou muito bom e foi muito bem avaliado pela crítica. Vocês lançaram somente um clipe do novo álbum, pode surgir novos clipes?
Na verdade, filmamos um novo clipe em dezembro passado. Será lançado em breve. Fiquem ligados!
A música “Bates Motel” virou um clássico da banda. Ela é sobre o filme Psicose? Qual é a relação entre vocês, a música e o filme?
A letra dessa música foi escrita antes do título ter sido escolhido. Lembro-me de ter pensado em palavras como “Bleeding …” e “Fall down the drain …” e eu imediatamente pensei na famosa cena do chuveiro em Psicose. Nós decidimos que foi um bom título, mesmo que as letras não tenham uma tangível relação com o filme. Eu sempre pensei que os títulos das músicas em geral deveriam ser cativantes e memoráveis, mesmo que isso signifique que a relação entre o título e a letra seja um pouco… obscura.
Do “Blue Prints” até o “Remember Death” se passaram 14 anos, quais mudanças vocês percebem ouvindo o primeiro e último álbum? Essas mudanças surgiram propositalmente ou naturalmente?
Para ser honesto, tem um bom tempo desde que ouvi o EP Blueprints, então minhas lembranças são um pouco confusas. Eu acho que os Blueprints e também o nosso primeiro disco completo, o Sleepers, representam o período “inicial” da banda, e tudo que vem depois, inclusive The Raven, são um reflexo muito melhor do que a banda realmente é. Eu acho que o que distingue mais as obras antigas das novas é a qualidade da composição e a atenção aos detalhes. Em cada lançamento, continuamos passando mais e mais tempo criando as músicas para que elas saiam do jeito que nós queremos, o máximo possível. Toda vez, olhamos o que fazíamos antes e perguntamos: “como podemos melhorar?”. Então, é claro que fizemos muitas mudanças de propósito, especialmente comparando com o período inicial da banda. Hoje, consideramos que essas coisas são um pouco “primitivas”. Então, também, quando tantos anos passam, há uma progressão natural. As pessoas não são as mesmas hoje do que eram há 14 ou mais anos. Algumas influências mudaram. A vida muda.
O Canadá é um país de primeiro mundo, o Brasil é um país de terceiro mundo que vive uma instabilidade política e econômica desde as últimas eleições. Nós daqui vemos o Canadá como um paraíso. Quais dificuldades e problemas vocês encontram por lá? E o que vocês enxergam e pensam sobre o Brasil?
Eu tenho que dizer que eu realmente não acompanho da situação política no Brasil, então eu não posso realmente comentar nada sobre isso. Não creio que ofenda ninguém dizendo que os padrões de vida no Canadá são bastante superiores aos do Brasil. É um dos países mais seguros em que você pode viver. No que diz respeito aos problemas, bem, o clima é realmente terrível. O inverno é amargamente frio. Nós acabamos de ter vários dias seguidos com -30º. Você realmente tem que questionar a sanidade de quem pensou que era uma boa idéia se estabelecer aqui. Com isso dito, sei que o que acabei de descrever não dá para comparar com as dificuldades experimentadas pelas pessoas que vivem países menos desenvolvidos. Sobre as nossas opiniões sobre o Brasil, você deve se lembrar que quando vamos lá, vamos como “turistas”, e nós também nunca ficamos muito no mesmo lugar. Então, não vemos muito do dia a dia. Somos bem atendidos, estamos sempre cercados por pessoas locais que garantem que não iremos onde não devemos ir. Nunca me senti ameaçado em qualquer lugar do Brasil ou da América Latina. Mas eu sei que nem sempre é assim.
Muito obrigado! Façam um ótimo show! Nos vemos por aqui!
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