Confira o bate-papo com Nekro do Boom Boom Kid, uma das mais importantes bandas da cena argentina! A entrevista rolou logo após o show no Hangar110 (21/06/2009). Por Fábio Besouro, e Pelogia do www.mtv.com.br/diariodepalco
Besouro: Fun People sempre foi uma banda conhecida, que passava até na TV Argentina. Hoje sobre o Boom Boom Kid, considera uma banda underground ou mainstream?
Nós tocamos e compomos músicas. Essas coisas de que um faz rock, punk ou reggae, ou se um é mainstream ou underground, são pra gente das mídias, que vão colocar um produto pra vender. Nós fazemos canções e tocamos, não entendemos dessas coisas.
Besouro: Agora vocês vão lançar um novo álbum, “Frisbee”, o que podemos esperar deste álbum? Porque esse nome?
Chama “Frisbee” porque é ótimo jogar frisbee, me faz lembrar o verão, e gosto dos climas quentes. Não sei se é um esporte, mas é um brinquedo, uma diversão, que pelo menos do lugar onde vivo agora não se usa, e é muito legal sabe.
Besouro: Então o espírito do álbum será esse? Um álbum feliz?
Sim, exatamente, sempre positividade, sempre pra frente! É um disco que terá 35 músicas, foi gravado em parte nos Estados Unidos, parte aqui no Brasil, parte na Argentina e parte no Uruguai. E o cd vem colado em um frisbee, então além do cd é um brinquedo. Gravamos 50 músicas novas, mas como um cd não pode ser duplo, e o tempo do cd não permitiu mais que as 35 músicas. Podia lançar como DVD, mas não é todo mundo está usando um player de DVD para ouvir música.
Pelogia: Pensam em fazer um disco inteiro ao vivo?
Por enquanto não, essas coisas se usavam quando não havia tantos Youtube, sabe, pode estar tocando na Rússia, e estar em Chapanolandia ou em Israel, e ver o show. Então fazer um disco ao vivo agora não precisamos. Nos anos 70, 80, sim, era algo que valia a pena, nos fizemos algo assim nos anos 90, mas agora não faz sentido.
Besouro: Você tem uma foto que diz “Nekro está morto, viva a BBK”. Você não gosta que te chamem Nekro?
Essa resposta mereceu um áudio:
Besouro: Já tocaram em muitos paises, tem algum que gostaria de tocar?
Gostaria de voltar a tocar em Bolívia, voltar ao Peru, Onde você gostaria de tocar Chelo? Chelo (baterista): Peru seria ótimo! Nekro: E você Pela (baixista)? (Pela, apelido para careca. “Pelado”) Baixista: Japão! Nekro: E você Cláudio(guitarrista), onde gostaria de tocar? Guitarrista: Rússia! Nekro: É, todo lado! Em Marte!
Besouro: Sempre nos shows do Boom Boom Kid tocam música do Fun People, considera o BBK, uma continuação do FP? Ou seria outra fase?
Não sei o que é! É algo que saiu!
Besouro: Mas então porque a necessidade de trocar de nome?
Porque sou um cara que gosta de… Como posso dizer… Tem um momento que uma banda, quando perde muitos integrantes, já deixa de ser uma banda! Para que manter o nome de uma banda, se não é mais banda! Se tivesse alguma doença, que precisasse de grana, ou porque tem um contrato com uma gravadora, e tem que continuar, e isso eu não gosto, já fizemos, quando a banda começou a desmontar, e tínhamos turnês ao redor do mundo, conseguimos dois ótimos companheiros, que ainda tenho tocando comigo o “careca” e o Chelo. E pensamos, agora começa uma nova etapa, e aqui estamos!
Besouro: Mas não prejudicou a banda?
Sim! Mas ganhamos muitas coisas mais! Como diz Bob Marley “Muitos amigos perdeu, muitos amigos ganhou”.
Besouro: Você sempre misturou vários estilos de músicas nos álbuns. O que escuta ultimamente que te inspira a compor?
O ronronar do meu gato, os peidos do meu vizinho. Tem um disco que chama “Música para aeroporto (“Music for Airports”)” de Brian Eno que gosto muito, e também o de sempre, Slayer, Metallica, Sepultura, Obituary, The Shakers, Black Sabbath, um pouco de tudo, Frank Sinatra.
Besouro: Sempre nos shows, como hoje, você surfa com a caixa da guitarra sobre a galera, outro show você subiu no teto e ficou de ponta-cabeça. Nunca teve um acidente? Nunca se machucou?
Sim, já com o long board (levantando a calça e mostrando os dois joelhos com cicatrizes de operação), também já dando um salto e cai! Na Argentina quem não sabe surfar, os chamam de “cornalos, cornalitos”, que é um pequeno peixe, que é meio atrapalhado. Nos EUA já tentei surfar, mas nunca consegui, quando era pequeno tinha vontade, mas era muito ruim, só que me divertia sobre uma prancha! Mas como eu queria surfar disse, “porque não em um show?”, e é o que eu faço!
Pelogia: Tem uma banda aqui do Brasil que chama PhoneTrio, que fez uma turnê na Argentina uns meses atrás. Eu entrevistei eles, e um dos caras me disse que a diferença da cena hardcore do Brasil e da Argentina, é que lá as pessoas tem muito mais amor pela música que aqui. Você consegue ver essa diferença?
Eu acho que o amor pela música é global. Não posso falar isso porque não conheço todas as pessoas que vi no Brasil e na Argentina. Não posso dar uma opinião tão geral.
Pelogia: As pessoas tem uma grande confusão que é Hardcore e Emocore, isso acontece na Argentina também?
Acho que sim, mas não são coisas importantes. Tem gente que perde tempo com isso, ao invés de fazer mais amor, estar com os amigos, perde tempo com besteiras! O que importa se um faz Cumbia, baladas… que bom que tem gente que tem tempo pra fazer música, em um mundo que cada vez temos que trabalhar mais, temos menos tempo livre. Porque as pessoas que fazem música não se juntam? “Você emocore? você punk?”, o que importa isso? O que importa como é seu cabelo? De que jeito fala? De que cor é? O importante é que esta fazendo algo legal! A música alegra o coração, a vida, junta as pessoas… Essas coisas eu não entendo, o que acontece com a juventude, com os mais velhos… o que acontece com os humanos, brigam por coisas estúpidas.
Pelogia: Aqui no Brasil acontece em vários lugares que tem shows de hardcore, as vezes tocam 20 bandas de abertura e elas tem que pagar pra tocar, ou vender convites, isso acontece na Argentina também?
Acontece, mas em nossos shows em jamais permito que aconteça isso. E creio que na Argentina somos umas das únicas bandas que pagamos as bandas pra tocar com a gente, e sempre escolhemos qual banda vai tocar! Principalmente porque somos pessoas que saímos pouco, e se saímos não vamos a um show de rock, então quando algum quer ver uma banda, ou tem amizade com uma banda, chamamos pra tocar com a gente, ai vemos eles ao vivo! Pra mim isso é muito ruim! Não é nosso caso! De onde viemos chamamos de uma coisa muito “berreta”… que é como se fosse… Lixo!
Pelogia: Você ainda tem o selo, o Ugly?
Sim, lancei agora o “Número 50”, que é uma coletânea que fiz nos Estados Unidos, e tem 5 canções novas. Mas não lanço outras bandas agora, a última foi o Hard Skin que é uma banda da Inglaterra.
Pelogia: E existem outros selos por lá? Ou quando para de vender não se acha mais?
Sempre tem, mas o que acontece é que as próprias bandas lançam seus CDs. Por exemplo o irmão do Cláudio (guitarrista), tem uma banda, e pagaram o próprio cd. O mercado do cd ta caindo, é melhor cada um lançar o seu, e arriscar. E principalmente porque não tem tanta gente boa fazendo coisas boas por lá. Tem! Mas são exceções!
Besouro: Você já escreveu vários temas bem variados! Você pensa como os fãs vão receber, ou faz da maneira que quer?
Não sei, porque só meu gato me entende. Quem faz música faz porque faz bem a si mesmo. Eu faço canções que precisar jogar pra fora! Jogar pra fora pra não adoecer, pra que isso não fique em mim! Então quando tocamos, jogamos pra fora toda essa merda. Se você se diverte, te cria um sentimento, te faz chorar ou rir pela música que fazemos, e é bom, então genial! Só que mais que nada o que fazemos é uma dança, nos juntamos, tocamos, é muito espontâneo. Temos muitos erros quando tocamos, mas somos espontâneos, isso que é legal! Somos bem amadores, apesar de que vai muita gente a nos ver, e vendemos muitos discos, e viajamos pra muitas partes, o amadorismo é algo que temos dentro. E às vezes queremos fazer alguma coisa muito “pró”, ai não dá certo, é pior! Sai assim, sei lá!
Besouro: E o idioma? Por que vocês tem músicas em inglês, em espanhol, até os idiomas misturados. O que pensa na hora de compor, que vai escrever em determinado idioma, ou sai naturalmente?
Sai, sai! Na verdade quando eu era pequeno gostava da idéia do Esperanto! Mas não pude aprender! E meu pai escutava um cantor anglo-saxon, que queria cantar em espanhol, e cantava mal, e eu gostava! Então pensava que um dia quando tiver uma banda, vou cantar tudo mal cantado em inglês, pra ficar engraçado como aquele cantor!
Confira a resenha e fotos do show que rolou esse dia, clique aqui!
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