Iron Maiden: a antítese ao rock preguiçoso
Local: Allianz Parque – São Paulo/SP
Por: Bruno Martim
Fotos: Camila Cara
Caro leitor (a), informalmente, gostaríamos de saber: você se recorda de quantos lançamentos presenciou das chamadas grandes bandas de rock, como Iron Maiden, Rolling Stones e Metallica, nos últimos 20 anos?
Se você já passou da classe dos vinte e poucos – como eu -, sabe que os dois últimos nomes não têm disponibilizado novas músicas com a frequência de outrora. E têm vivido apenas de turnês e lançamentos esporádicos – no caso do Metallica já são quase DEZ anos desde o seu último disco de estúdio: “Death Magnetic”, de 2008; e no dos Stones, mais que isso: são 11 anos à espera de um novo álbum.
Ou seja, em estúdio, determinadas bandas acabam sendo mais preguiçosas que outras.
Falta de criatividade? Problemas internos que dificultam a agenda para gravações? Decidam.
Mas raciocinemos: se um grupo, como o Iron Maiden, se coloca na vanguarda de um movimento importante, como a NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal), e busca inovar, com frequência, a cada álbum, explorando novas sonoridades e conceitos, preguiçoso é que ele não é.
Nem um pouco, diga-se.
A banda inglesa é vista, a cada disco, nas listas de melhores do ano e bate recordes de vendagens em países do mundo todo. Mais que isso, traz novos elementos a cada um dos seus álbuns. Para traçarmos um paralelo: nos últimos 20 anos, o Iron Maiden gravou e lançou seis álbuns de estúdio. Se somados, Rolling Stones e Metallica lançaram cinco. Assim, fica fácil entender o impacto que a Donzela de Ferro tem em seu segmento, a música pesada, e também no cenário da música pop mundial. Afinal, é um fenômeno a ser observado.
Os ingleses poderiam estar em casa, deitados, ou na praia, torrando abaixo de um sol escaldante. Mas não, querem e vivem em função da sua música. É o que dá vida a eles.
E isso foi o que se viu, neste último sábado, 26, no Allianz Parque, em São Paulo. Sempre que visita o Brasil, a trupe de Steve Harris e Bruce Dickinson coleciona lembranças, estádios – e, agora, aeroportos – lotados e fãs aficionados por vê-los e ouvi-los.
A apresentação na capital paulista foi uma experiência saudosa para a grande maioria dos fãs. E que valeu a pena. Composta por uma maioria mais velha – acima dos 25 anos -, a plateia do Iron Maiden vibrou. Cantou. E aproveitou cada uma das 16 músicas executadas in loco. Fãs mais novos, entretanto, também foram visto por todos os lados do estádio. O que é um registro importante, pois mostra uma renovação de perfil do público da banda. Com discos lançados com frequência, é mais fácil fidelizá-los.
Trazer o Iron Maiden para a América do Sul é, também, válido para organizadores e promotores de grandes eventos. Só na capital paulista, segundo a organização, foram mais de 42 mil pessoas. Trazer a banda pra cá é, sem dúvida, garantia de retorno financeiro e de exposição na mídia.
Voltando à apresentação, que fechou a tour pelo País, foram várias trocas de figurinos e cenários, em uma sincronia e sintonia bem formatadas pela banda e os seus engenheiros de palco. Dando aquilo que conhecemos, há algum tempo, a muitas pessoas que viam o grupo pela primeira vez.
Também ficou evidente a opção da banda por valorizar as suas novas composições, que fazem parte do recém-lançado e aclamado “The Book Of Souls”. O setlist foi calcado em suas principais músicas. Destaque para “The Red And The Black” e “Speed Of Light”, duas das mais comemoradas. Opção que também registra uma nova fase vivida pela banda. Mais progressiva, com canções longas e novas harmonias musicais. Caminho desenhado pela Donzela durante a última década, em discos como “Dance Of Death” e “A Matter Of Life And Death”.
O Iron Maiden, enfim, ousa e arrisca como nenhuma outra grande banda. Sem medo. Fatos que comprovam a ideia de antítese ao rock preguiçoso. Aquele de pouca coisa nova e já acomodado. Afinal, inovação e criação sintetizam a busca pela perfeição. E se tem uma coisa que o Iron Maiden não é, é preguiçoso.