Resenha por Guilherme Góes e fotos por Dayane Mello.
1º dia
Aconteceu a edição anual do tradicional Oxigênio Festival. O evento contou com a produção da House of Vans e Hangar 110. Sendo um festival de grande porte, também recebeu apoio de marcas de renome como Budweiser, Spofity e Goose Island.
Em três dias de música, o Oxigênio Festival 2018 reuniu 45 bandas em dois palcos (Side Stripe e Off the wall), sendo a maior edição do evento desde o surgimento do festival.
O local escolhido para sediar o evento foi a Via Matarazzo (mesmo espaço que abrigou a edição de 2017). A casa bem localizada no bairro da Barra funda conta com um enorme terreno, que acomodou perfeitamente o sistema de palcos duplos, não causando nenhuma interferência de ruídos durante sets simultâneos. Além disso, o espaço contava com máquinas de arcade, dois bares na pista, espaço para venda de merchandising oficial e pista de skate. A produção do Oxigênio Festival utilizou estrategicamente cada centímetro do local, tornando a Via Matarazzo em uma verdadeira “Disneylândia” para os fãs de Punk rock e Hardcore.
Iniciando a festa na sexta feira, as bandas Álamo e Depois da tempestade foram as responsáveis pelo pontapé inicial do festival. Grande iniciativa por parte da organização do Oxigênio Festival em oferecer espaço para novas bandas.
Seguindo, o Rocca deu continuidade à festa. A banda já é considerada um dos principais nomes da cena rock Cearense e retornou à cidade de São Paulo para apresentar um setlist focado em músicas do próximo álbum “Líquido”, que será lançado pela Universal Records. Outras músicas conhecidas como “O.V.N.I” e “Rival de cinema” não ficaram de fora.
Outra banda que também apresentou diversas músicas novas no Oxigênio Festival 2018 foi a Ravel. Com uma nova formação, os paulistas mandaram músicas do EP “Meu Mantra” como “Sabedoria” e prometeram mais shows na cidade de São Paulo após o lançamento um novo trabalho no mês de outubro.
O Black Days também realizou um show matador no primeiro dia do festival. Uma das promessas do hardcore atual apresenta um som moderno e performances energéticas, com o vocalista Bruno Figueiredo sempre cativando atenção e mostrando grande interação com o público. Apresentando singles como “ Vida que segue” e “A ponte”, o quarteto certamente conquistou novos fãs na audiência do Oxigênio Festival.
Outro destaque na sexta feira foi o set do Bullet Bane com participações especiais. Após a saída do vocalista Victor Jorge, a banda vem realizando alguns shows contando com colaborações de vocalistas de outras bandas da cena. Apresentando músicas do álbum “Continental” (2017) como “Gangorra”, “Encruzilhada” e “Mutação” , o set contou participações de Lucas Guerra (Pense), Cyro Sampaio (Menores Atos), Nando melo (Manual) e outros. Essa foi a primeira vez que a banda tocou em um grande festival sem o antigo vocalista. Nitidamente, os fãs presentes demonstraram grande respeito e consideração pela decisão dos demais integrantes.
O Dance of Days também esteve presente no primeiro dia do festival. A clássica banda da cena hardcore paulista apresentou músicas de antigos trabalhos como “Adeus Sofia”, “Se essas paredes falassem”, “Vai ver é assim mesmo” e “Insônia”.
O Gloria, igualmente veteranos na cena, colocou a Via Matarazzo abaixo durante seu set. A banda apresentou algumas músicas novas que possivelmente estarão presentes no próximo lançamento do grupo, mas também mandou músicas de antigos trabalhos como “Anemia”, “Minha paz” e “Horizontes”. Set matador e repleto de músicas que marcaram a adolescência dos presentes na enorme audiência do Oxigênio festival.
The Movielife foi a grande surpresa da sexta feira. Embora não tão conhecida em terras tupiniquins, a banda nova iorquina teve um relativo sucesso no começo dos anos 2000 durante a “onda emo”, chegando a tocar com bandas de renome como New found glory, Blink 182 e Yellowcard. Única atração internacional do line up naquele dia, o quarteto apresentou músicas do novo álbum “Cities in search of heart” (2017), mas também passopor músicas do antigo trabalho “Forty hour train back to penn” (2003). O carismático vocalista Vinnie Caruana agradeceu o respeito e atenção do público brasileiro e a banda encerrou o set com “Jamestown” — única música reconhecida por meia dúzia de pessoas na audiência.
O Hateen esteve presente em quase todas as edições do Oxigênio Festival e a banda também marcou presença nesta edição do evento. O grupo apresentou diversas músicas do álbum “Não vai mais ter tristeza aqui” (2016), mas também mandaram clássicos como “1997” e “Obrigado tempestade”. Destaque para o cover de “Rainy days”, da banda Street Bulldogs.
Com a Via Matarazzo totalmente cheia, a banda gaúcha Fresno foi a responsável pelo encerramento do primeiro dia do oxigênio Festival. O setlist apresentado no festival mesclou diversas músicas do mais recente trabalho “A sinfonia de tudo que há” (2016). Certamente, não deixaram de fora clássicos da “era emo 2000” como “Deixa o tempo”, “Polo” e “Quebre as correntes”, captando um enorme sentimento de nostalgia dos presentes na audiência.
2º dia
O segundo dia do Oxigênio Festival atraiu muito mais público. Por volta das 13h00hrs, a Avenida Matarazzo já estava completamente dominada pelos fãs do evento. Igualmente, os bares e supermercados da região também foram tomados pela galera que iria participar da festa.
No sábado, a banda feminista Cosmogonia foi a responsável pelo pontapé inicial. Representantes do riot punk rock com mais de 20 anos na cena, as garotas mandaram um set poderoso e direto, com diversas mensagens reforçando a importância do respeito e igualdade na cena Hardcore.
A banda Blackjaw também foi responsável pelo aquecimento logo no início do segundo dia do festival. Apresentando uma mudança na formação, os caiçaras animaram o público presente com um setlist repleto de músicas do recente trabalho “Anticlimax” (2017).
Mostrando a variedade do evento, a banda Excluídos também marcou presença no Oxigênio Festival. Representante do “punk rock 77”, o grupo apresentou diversos clássicos como “Eu Não quero “,”Seu verdadeiro eu” e “KM 77”, captando atenção da audiência e recebendo enorme respeito por parte do público.
Após uma recente turnê na Europa, o quarteto Statues on fire mostrou de porquê de ser uma banda com prestigio internacional. Apresentando músicas do álbum “No tomorrow” (2014) e “Phoenix (2016), a banda colocou o público para dançar na roda, apresentando uma performance alinhada e tecnicamente impecável.
A banda carioca Carbona animou o público com seu punk rock simples e bem humorado. Apresentando clássicos como “Meu primeiro all-star”, “O mundo sem Joey” e “Fliperama”, os fãs reagiram do começo ao fim do mosh e crowdsurfing. O set também contou com a participação do vocalista Tor, da banda Zumbis do espaço.
Sendo uma das atrações mais aguardadas do evento, Menores Atos levou um público massivo ao palco “Side stripe” na reta final do evento. A banda carioca apresentou diversas músicas do recém-lançado “Lapso” como “Amanhã”, “Pressa” e “No espelho”, mas também destacaram músicas do antigo álbum “Animália” (2014) como “Passional” e “Sobre cafés e vocês”. O grupo encerrou o set com a música “Sereno”, que contou com uma pequena participação de fãs no palco.
A atração internacional Gameface dividiu o público do Oxigênio Festival com o Zander. Apresentando um som “pos grunge/real emo”, a banda realizou um show extremamente alinhado e empolgante, com o carismático vocalista Jeff Caudill agradecendo o público por “darem a chance de experimentar algo novo” (em referencia ao Zander que estava tocando no mesmo horário). Os californianos animaram os fãs com diversos clássicos da carreira como “Laughable”, “Picture day”, “Always on” e a suprema “My star” — essa que foi enorme hit no final dos anos 90s.
Após o término do set do Gameface, foi possível assistir um pouco do show do Zander. Seguindo a mesma dinâmica de apresentações anteriores, a banda focou em músicas do último álbum “Flamboyant” (2016) como o hit “Bastian contra o nada”, mas também agitou o público com músicas do disco Brasa (2010) como “Humaitá” e “Auto Falantes”.
Com a pista do palco Side Stripe completamente lotada, a banda capixaba Dead Fish foi a responsável pelo encerramento do segundo dia do festival. Com o vocalista Rodrigo Lima afirmando que “o fascismo dá facadas, mas o fascismo também leva facadas”, a banda iniciou o show com a clássica “Afasia”, tornando o espaço em um verdadeiro pandemônio. O grupo destacou diversas músicas do álbum “Sonho médio” (1998), em comemoração aos 20 anos de lançamento.
Ao longo do set, Rodrigo reforçou a temática de esquerda defendida pela banda e passou por outras músicas importantes da carreira como “Zero e um”, “Bem vindo ao clube”, “Contra todos” e “Venceremos”. Como de costume, a apresentação foi encerrada a música “Sonho médio”.
3º dia
Após dois dias de shows insanos, o público não desanimou. Os fãs de música independente compareceram novamente para o último dia do Oxigênio Festival 2018, lotando a Via Matarazzo.
Iniciando a festa no domingo, a banda 88não foi a responsável pela abertura da última etapa do evento. Os experientes punk rockers com mais de duas décadas de atividade na cena apresentaram diversas músicas da extensa carreira como “Chefes de Estado”, “Brasil” e “Horas”.
Corona Kings explorou um pouco da variedade do Oxigênio Festival no último dia do evento. Mostrando um som mais voltado ao “Rock tradicional”, os paranaenses captaram a atenção e respeito do público hardcore com um setlist apresentando as músicas do excelente trabalho “Death Rides a Death Rides a Crazy Horse” (2017).
Entre os representantes de outros estilos musicais no Oxigênio Festival, a BRVNKS realizou um set calmo no meio da agitação do evento. Apresentando um som relativamente diferente das outras bandas do line up com músicas como “DON’T” e “F. I. J. A. N. F. W. I. W. Y. T. B.”, o shoegaze do grupo levou certo público ao palco “Side Stripe”. Durante o set, a BRVNKS mostrou o porquê de ser um nome tão falado na cena independente recente.
Bayside Kings certamente foi a banda responsável por um dos sets mais matadores de todo o festival. Afirmando que “não existe diferença entre público e artista no hardcore”, o vocalista Milton Aguiar desceu do palco e comandou boa parte do show diretamente da pista. Os caiçaras apresentaram diversas músicas do álbum “Resistance” (2017), um cover “Cyco Vision” de Suicidal Tendencies e encerraram com a emblemática “Still Strong”.
A banda Deb And The Mentals também realizou uma bela apresentação divulgando o disco Mess (2017). Era possível notar que o grupo liderado pela espontânea Deb Babilônia já tem um público bastante cativo que conhece todas as músicas. Explorando momentos de peso e rapidez com coreografias simples, o quarteto também prendeu a atenção de quem ainda não os conhecia.
A festa continuou com Flicts, apresentando suas divertidas e empolgantes músicas como “A Todo Anarquista”, “Desmascarar Sua Bandeira” e “Canção de batalha”. A apresentação também contou com a participação do vocalista Clemente da banda Os Inocentes. O público aglomerado ali não deixou o grupo decepcionado, cantando a plenos pulmões cada uma das músicas.
Uma das surpresas do line up no domingo foi o show do “Charada Brasileiro’. Supla realizou uma performance incansável, colocando em dúvida a sua verdadeira idade. O setlist de sua apresentação estava focado em músicas de seus trabalhos mais recentes como “Diga o que Você Pensa” (2016), “Illegal” (2018) e algumas de seu projeto paralelo “Brothers of Brazil”. Alguns fãs mais antigos reclamaram do setlist, alegando que Supla deveria ter incluído mais músicas antigas. No entanto, a apresentação agradou o público mais novo que ainda não conhecia o trabalho dessa figura mítica.
A lendária banda Os Inocentes também marcou presença no último dia do festival. Sendo uma das poucas representantes do “punk rock old school” no line up, o quarteto apresentou diversas músicas clássicas como “Rotina”, “Miséria e fome”, “Morte nuclear” e “Pânico em SP”. Sendo ovacionados pelo público, o grupo encerrou o set com a música “Pátria Amada”. Essa foi uma boa oportunidade para o público mais novo conhecer uma das principais bandas do punk rock nacional.
A tradicional banda Chuva negra marcou presença mais uma vez no Oxigênio Festival. Mandando um setlist repleto de “hinos” como “Dois Quartos”, Classe de 97″,”Amanhã vai ser pior” e “Refém do ontem”, os fãs acompanhavam cada palavra de todas as músicas e não paravam no moshpit e crowdsurfing. Durante a apresentação, o vocalista Chinho quase foi atingido por um objeto da iluminação que despencou da parte superior do palco. No entanto, ele levou a situação com bom humor, afirmando que “tinha o corpo fechado”. O grupo encerrou o set com a música “Faça Você Mesma “, que contou com uma invasão de garotas no palco. Ao término do show, Chinho prometeu retornar no próximo ano com um novo material.
Próximo ao encerramento do festival foi à vez da banda mineira Pense apresenta as músicas do novo álbum “Realidade, vida e fé” (2018) para uma audiência de mais de mil pessoas. Seguindo a mesma dinâmica de shows anteriores desta turnê, começaram com a “Intro” do novo disco e seguiram com “Utopia”, “Corpo, mente e espírito” e “Levanta e vai”. Brincando com um fã que estava com vestido de Jesus Cristo no meio do público, o vocalista Lucas Guerra disse que “se Jesus Cristo estivesse vivo, provavelmente estaria em um rolê como aquele [oxigênio festival] e não em igrejas que pregam violência, preconceito e apoio a candidatos intolerantes”. Lucas também afirmou que “a única tristeza do dia era não ter a chance de assistir o show do Garage Fuzz (a banda estava tocando no mesmo horário que o Pense no palco “Off the wall”). O quinteto também apresentou músicas de trabalhos anteriores como “Espelho da alma”, “”Aponte para o espelho”, “Andando sobre pedras” e “Contra cultura” — essa ultima foi a grande surpresa, pois esteve fora do setlist nos últimos shows. O grupo encerrou com “Todo momento é o agora” e “Eu não posso mais”. Sem duvidas, a banda Pense consolidou seu espaço entre os principais nomes do hardcore nacional.
Após uma hora de montagem e alterações no palco, foi à vez do CPM 22 encerrar o Oxigênio Festival. Com um início matador, a banda mandou logo de cara a música “Combustível” e o clássico “Tarde de Outubro”. O quinteto paulista apresentou diversas músicas do trabalho do recente trabalho “Suor e Sacrifício” (2017) como “Pagar Pra Ver”, “Ser Mais Simples” e “Honrar teu nome”. Clássicos importantes como “O Mundo Dá Voltas”, “Regina Let’s Go”, “Desconfio” e “Não Sei Viver Sem Ter Você” não ficaram de fora. Totalmente carismático, o vocalista Badauí brincou com o resultado do jogo entre Corinthians x Palmeiras, agradeceu os fãs que ainda acompanham a banda após duas décadas de estrada e afirmou que “o hardcore jamais terá a mesma exposição que teve na mídia durante o inicio dos anos 2000s, mas a cena nunca irá morrer”. O baixista Fernando Sanches destacou a importância das mulheres na cena e disse que “gostaria de assistir uma banda feminina fechando um evento como o Oxigênio Festival no futuro”. Seguiram com as músicas “Irreversível”, “Mais Rápido Que as Lágrimas”, “Inevitável” e com a emblemática “Um Minuto Para o Fim do Mundo”.
A edição anual do “Vans warper tour tupiniquim” foi simplesmente inesquecível. Foram três dias de música com 45 bandas apresentando shows matadores em um espaço totalmente interativo e bem organizado. Os ingressos estavam em valores acessíveis e o evento inteiro ocorreu em um clima de total amizade e respeito. Até 2019, Oxigênio festival!