Resenha por Guilherme Góes. Fotos por Fábio Besouro.
No último sábado (21/07/2018), aconteceu em São Paulo a primeira edição do Warriors festival, organizado pela agência Sobcontrole. Inspirado no clássico filme lançado no final da década de 70s e com a intenção de representar a resistência da música de protesto ante modismos e adversidades, o evento reuniu 10 bandas em 9 horas de música. Infelizmente, a banda DFC não conseguiu comparecer ao evento.
O local escolhido para o evento foi o Espaço 555. O espaço localizado no coração da cidade e praticamente “colado” com a Galeria do rock foi totalmente adequado para o estilo deste evento.
Após quase 2 horas de discotecagem interna na casa com clássicos do punk/crossover, a banda Eskröta deu início a festa. Representantes do thrash formado apenas por mulheres, o trio está na ativa desde o ano passado e atualmente divulgam o EP Eticamente Questionável, masterizado por Prika Amaral (Nervosa) e mixado por Léo Mesquita (Surra).
Iniciando o set com declarações polêmicas de sujeitos como Jair bolsonaro e Michel Temer, a banda apresentou seu som furioso. Com músicas como “Eticamente questionável”, “Desumana ação” e “Crime hediondo”, covers de Ratos de porão e DFC e discursos sobre feminismo, a banda conseguiu colocar o público presente no circle pit e segurou a atenção dos presentes até o término do set. Abertura sensacional, mostrando que a noite seria boa!
Logo em seguida, a Santa Muerte deu continuidade à festa. Assim como a Eskröta, a banda também é um trio composto apenas por mulheres. As garotas estão em atividade desde 2012 e apresentam um som que mescla crossover com death metal e thrash metal. Apresentando músicas do álbum Psychollic (2017) como “Cyco pit”, “Reactions”, “The Glory”, um cover do Sepultura e discursos da vocalista/guitarrista Marília Massari pedindo por respeito e igualdade na cena underground, o trio colocou a galera para “moshar” do início ao fim.
Continuando o evento, a terceira banda da noite foi o Direction. A banda formada em 2016 conta com integrantes conhecidos e experientes da cena, que já participaram de bandas com Live By The Fist, Dedication, Good Intentions e Dance of days. Embora fosse a banda mais melódica do festival, eles não deixaram o público desaminar. O set baseado no álbum “Mesmo Horizonte” (2016) cativou a atenção dos presentes.
Logo após, o Faça Preta subiu ao palco do Espaço 555. A banda formada em 2013 por integrantes de outras bandas conhecidas da cena paulista como Horace Green e Chuva Negra apresenta um empolgante som Street punk. Embora a banda tenha apresentando um setlist curto (eles possuem apenas um EP de trabalho até o momento), o público demonstrou um respeito total em relação ao seu trabalho. Punks, Headbangers, Straight edges e Crossovers dançaram e cantaram todas as músicas do grupo. Destaque a perfomance do vocalista Fabiano Santos, que demonstrou um enorme respeito e interação com o público que estava se divertindo na pista.
Após uma troca nos instrumentos, foi a vez do Norte Cartel. A banda carioca foi formada ainda na década de 90s e faz um som com influências fortes de Hardcore Nova-iorquino como Madball e Sick of it all. Esse foi o primeiro show da banda em São Paulo desde 2016. Com letras baseadas em temas como união e respeito e discursos sobre o cenário político, o Nortel Cartel mostrou o porquê de ser uma das bandas mais aguardadas do evento. Com o setlist variando entre músicas do álbum De volta ao jogo (2017) e Fiel à tradição (2010), o público reagiu incansavelmente no mosh pit. O vocalista Felipe Chehuan agradeceu bastante o respeito do público, afirmando que sempre foi bem recebido pelo público paulista. Disse também que “a única camiseta amarela que usa é a do Cólera ou a do Surra” e pediu diversas vezes para os presentes mandarem o candidato à presidência Jair Bolsonaro ir “tomar no c*”. Sem duvidas, foi um dos sets mais diretos e intensos da noite.
Seguindo com uma pausa e uma discotecagem na qual rolou até pagode dos anos 90s, foi a vez do Surra quebrar tudo no 555. O trio Thrashcore paulista é um dos principais nomes na música extrema na cena brasileira atual, e conta com ótimos trabalhos no currículo como Bica na Cara (2012), Tamo na Merda (2016) e o EP Ainda Somos Culpados (2017). Com suas músicas extremamente rápidas como “Daqui para pior”, “30 kg de merda”, “Valeu memo” e “Merenda”, os fãs da banda subiam no palco para cantar as músicas junto com os integrantes, arriscavam alguns stage dives e não pararam um minuto sequer no circle pit. Set super empolgante e divertido (particularmente, achei o melhor da noite).
Entrando na parte final do evento, foi a vez da banda Cosmogonia. A banda representante do Riot foi formada em 1993, na cidade de Osasco. As garotas fazem um som punk/hardcore agitado e energético. Entre 1998 e 2006 a banda gravou alguns singles e participou de coletâneas. Voltou em 2017 após um hiato de 12 anos. Apresentando músicas de trabalhos anteriores como “O sentir que violenta”, “TV inculta” e “Vida igualitária”, a banda conseguiu deixar sua mensagem feminista marcada nos presentes. Infelizmente, o set foi bem curto. No entanto, a banda prometeu mais shows na cidade de São Paulo após alinhar a nova formação.
Praticamente encerrando o evento, foi a vez dos pioneiros do Skamoondongos. Nome importante da cena Ska brasileira, a banda ganhou certa notoriedade na década de 90s, com videoclipes tocando na extinta MTV e músicas nas paradas das principais rádios de rock daquela década. A banda permaneceu em hiatos por alguns anos, mas retornou aos palcos em 2014.
Embora fosse a banda mais diferente da noite, não desapontou o público homogêneo presente na audiência. Ao som de clássicos do álbum “Segundo” (1997) como “Segunda feira”, “Boêmio” e “Pobre Plebeu”, o Espaço 555 virou uma pista de dança por completo. A banda também mandou um cover de Garotos Podres, sua versão de “Bella Ciao” e encerraram o set com um cover da clássica “A message to you” do The Specials.
Por volta das 22h, foi a vez do Periferia S.A. encerrar o evento. Pioneiros do Punk Rock no Brasil, a banda surgiu no início da década de 80s, permaneceu por mais de 20 anos em hiatos, mas voltou aos palcos em 2014.
Jão, Jabá e Dru subiram ao palco do 555 com roupas de palhaços, com o vocalista Jão afirmando “representar o povo brasileiro neste momento que o país atravessa”. Mandando clássicos do punk rock nacional como “Recomeçar”, “Farsa do entretenimento”, “Parasita” e “Segunda Feira”, a banda mostrou que a mensagem de protesto ainda é relevante e atual. Seguiram o resto do show com camisetas da CBF (ironizando os manifestantes da FIESP), mandaram covers de Blitz e Slaughters and the dogs e reclamaram bastante sobre a situação atual do país. Encerraram o show com a clássica música “Periferia”, também represente no primeiro álbum do Ratos de Porão.
O Warriors Festival foi um dos melhores eventos na cena underground em 2018. O público compareceu, agitou e demonstrou respeito por todas as bandas presentes no line up. Além disso, o local escolhido para o evento era bem localizado e o ingresso estava super acessível (ainda mais levando em consideração o número de bandas presentes no evento). Estamos ansiosos para a segunda edição do festival em dezembro!
Confira a galeria de fotos:
Periferia S.A.
Skamoondongos
Cosmogonia
Surra
Norte Cartel
Faca Preta
Santa Muerte