Ghostemane na Fabrique Club (16/03/2019) por Guilherme Góes.
Este final de semana foi fantástico para qualquer “trapper” paulista. Em um espaço de 24 horas, a cidade de São Paulo recebeu shows de dois dos principais representantes do estilo: Ghostemane e Blackbear (por coincidência, ambos nascidos e criados no estado da Flórida). Aquele apresenta um som sombrio com letras pesadas e uma base forte; já este possui um som mais leve e voltado ao pop, captando um público mainstream. Infelizmente, não comparecemos ao show do estadunidense Blackbear, mas cobrimos o espetáculo sensacional realizado por Eric Ghoste e sua trupe na Fabrique Club. Infelizmente não haverá fotos profissionais nessa matéria, pois a banda não autorizou o uso de câmeras DSLRs.
Embora não seja tão popular no meio punk e hardcore, você provavelmente já deve ter ouvido falar deste artista através de alguma mídia independente. O trapper ganhou notoriedade na cena mundial com suas músicas sinistras abordando temas como ocultismo, depressão, niilismo e morte, além de unir de forma original diversos estilos musicais como trap, hip hip e metal. Com sete álbuns full length e diversos singles lançados em conjunto com outros músicos populares na cena como Pouya e $uicideboy$, Ghostemane é um dos principais compositores da nova geração, sendo frequentemente citado em canais da Billboard e Genius, além de ser reconhecido por youtubers brasileiros especialista no estilo como “Swag Brazza“ e “Marcos dos Anjos”.
Por volta das 16hrs, a Rua Barra Funda já estava tomada por um público gigantesco e extremamente homogêneo, variando entre fãs trajados com camisetas do trapper brasileiro MC Igu, headbangers com braceletes da banda norueguesa Mayhem e veteranos do hardcore ostentando bonés do grupo capixaba Dead Fish. Como de costume nos eventos da produtora, os responsáveis da Solid music entertainment abriram as portas da casa para o público geral às 18hrs, sendo fiel ao horário anunciado na página oficial.
Após a abertura do espaço, o público presente no local foi mantido por uma hora e meia sob uma discotecagem de metal realizada pelos organizadores. Depois do “esquenta” para a primeira apresentação, DJ Parvor – músico auxiliar de Ghostemane – surgiu no escuro palco da Fabrique às 19h31, trajando uma fantasia negra e uma máscara luminosa que destacava o logo do grupo. Seguindo com uma pequena interação com os fãs, o artista iniciou uma segunda discotecagem, desta vez destacando importantes músicas da cena hip hop atual. Ao longo do seu set, o DJ incentivou moshpits na pista, retirou sua fantasia, ficou totalmente descamisado no palco e pediu para os fãs cantarem mais alto, não deixando o público descansar. Os pontos altos de sua apresentação foram as execuções das músicas “BeamerBoy” e “Awful Things” do rapper nova-iorquino Lil peep (falecido no ano passado após uma overdose de ansiolíticos) e do funk “Bololo-haha” do MC Bin Laden.
Seguindo com anúncios por parte da organização, solicitando que os presentes não fotografassem ou filmassem a primeira música do show, Eric e seus auxiliares subiram ao palco às 19h48. Após agradecimentos, o grupo iniciou o show com a música “Nihil”, emendando com “Flesh”, “Bonesaw”, ”D(R)own”, “Bonesaw” e “Trench coat” – esta, sendo dedicada à polícia.
Seguindo, Eric iniciou um diálogo e afirmou que a próxima música era dedicada aos “metalheads e hardcore kids”, emendando a canção “Hake”, com um assistente mascarado surgindo e arrastando-se pelo palco, provocando o público na tentativa de aumentar a reação da audiência. Ao longo do set, o grupo também apresentou algumas de suas principais músicas como “Caligula”, “Squeeze”, “HAKE/SLASH” e “Nails”, com a apresentação sendo acompanhada por efeitos visuais no telão da casa, alta interação do público e diversas encenações dos integrantes, chegando ao ponto do guitarrista auxiliar do grupo destruir a guitarra no palco.
Ao término do show, Eric mencionou que havia chegado a sua parte favorita da noite e iniciou a música “Andromeda”, solicitando uma invasão de stage dives no palco. Seguindo com o encerramento, o grupo pegou o público de surpresa ao apresentar “1000 rounds” (feita em colaboração com o rapper Pouya), já que essa música esteve ausente em suas últimas apresentações. Para concluir a primeira parte do set, o quarteto mandou “Mercury: Retrogade”.
Depois de alguns minutos de pausa com DJ Parvor comandando as pick-ups e sendo responsável por não deixar o público desaminar, Eric e os outros dois integrantes apareceram novamente ao palco. Após agradecer a recepção do público em sua primeira visita ao Brasil, Eric atendeu ao pedido dos fãs e novamente surpreendeu a todos, encerrando definitivamente o show com a música “Venom” – canção de rara execução ao vivo, tendo retornado ao setlist após a turnê do álbum “N/O/I/S/E”.
O show foi praticamente perfeito. A baixa iluminação da casa atrapalhou a experiência da audiência, permitindo que o público distante do palco enxergasse apenas as silhuetas dos integrantes. No entanto, em relação a performance do grupo, não há pontos negativos que merecem ser apontados. Ghostemane mostrou para o público brasileiro o porquê de ter uma apresentação tão renomada, realizando um show criativo, original e incessante. A apresentação mostrada aos fãs paulistas fez jus ao hype recebido desde o anúncio de sua vinda ao país.